Serviço de saúde britânico recomenda que gestantes de baixo risco evitem parto em hospitais

Carolina de Assis

Novas diretrizes do governo da Grã-Bretanha publicadas nesta quarta-feira (03/12) estabelecem que mulheres com gestação de baixo risco sejam orientadas a optar por parto sem intervenção médica, sob cuidados de parteiras ou doulas

Na Inglaterra e no País de Gales, 90% dos 700 mil bebês que nascem a cada ano vêm ao mundo em hospitais sob a supervisão de médicos obstetras. O Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês), o SUS britânico, quer mudar isso, e acaba de publicar novas diretrizes recomendando que mulheres com gestações de baixo risco optem por alternativas ao parto hospitalar. Segundo o Instituto Nacional para a Excelência em Saúde e Cuidados (Nice, na sigla em inglês) do Reino Unido, partos realizados sob o cuidado de parteiras e doulas são mais seguros para mulheres nestas condições, e elas devem ser orientadas a optar por este método.

Gestações de baixo risco correspondem a 45% do total na Grã-Bretanha. A aplicação das novas diretrizes do NHS significaria que cerca de 315 mil partos a cada ano deixariam de ser realizados por médicos e passariam a ser realizados por parteiras e doulas.

A recomendação pretende evitar intervenções médicas desnecessárias durante o parto como episiotomias (corte entre a vagina e o ânus para supostamente facilitar a saída do bebê durante o parto normal), uso de fórceps e cesarianas. A medida é revolucionária por incentivar a autonomia da gestante sobre seu próprio corpo ao recomendar que todas as opções de parto estejam disponíveis e que ela – e somente ela –, com a orientação de profissionais de saúde, possa escolher entre parir no hospital sob a supervisão de médicos, em unidades hospitalares com parteiras e sem intervenção médica, em casas de parto ou em casa.

“Apoiamos conversas individuais sobre o que é melhor para cada gestante nas circunstâncias em que ela se encontra”, afirmou Susan Bewley, professora de obstetrícia na King’s College em Londres e diretora do conselho do Nice, ao jornal britânico The Guardian. “Elas poderão escolher o cenário de parto mais adequado e devem ser apoiadas nessa decisão, já que esse é um direito delas.”

As diretrizes também recomendam que gestantes com maior risco de complicações durante e após o parto sejam orientadas a realizar o parto hospitalar.

O estudo “Nascer no Brasil – Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento”, realizado entre fevereiro de 2011 e outubro de 2012 com 23.894 mulheres de todo o país, constatou que 52% dos nascimentos registrados nesse período foram realizados em hospitais através de cesarianas. O máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde é de 15%, e o índice brasileiro faz do país o campeão mundial em cesáreas, título nada glorioso. Os autores da pesquisa estimam que quase um milhão de mulheres sejam submetidas à cesárea anualmente no Brasil sem indicação obstétrica adequada.

 

Fonte: Ópera Mundi 

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