Por Douglas Belchior
Amig@s do Blog NegroBelchior, Facebook, de vida e de luta, boa tarde!
Quero agradecer as inúmeras manifestações de carinho e respeito que recebo desde ontem e, também, gostaria de dar as minhas explicações sobre a não participação no programa “Na Moral”, da Rede Globo de televisão, na noite de ontem, 10 de Julho.
A avaliação do meu coletivo de militância foi de que seria importante aceitar o convite para a gravação do programa “Na Moral”. Em que pese todas as contradições – em se tratando da rede Globo – aceitamos por avaliar que se trata de um veículo que efetivamente leva informação para milhões de brasileiros, e que poderíamos utilizar para levar nossa mensagem de combate ao racismo e de reivindicação de reparação histórica, de denúncia do genocídio negro e de defesa das políticas de ação afirmativa. Não houve inocência na ação. Foi algo avaliado e decidimos por fazer, mesmo sabendo dos riscos da edição.
O compromisso da produção do programa foi manter os principais argumentos de todos os participantes. As profissionais, produtoras do programa, me pareceram (e acredito mesmo que sejam) sérias em seu trabalho e sensíveis ao tema.
O programa foi gravado na tarde de sábado, 28 de junho. A proposta é de que seriam dois blocos: o primeiro abordaria racismo em telenovelas, com a participação de artistas; o segundo seria um debate sobre cotas raciais tendo por um lado a desembargadora Luislinda Valois – primeira mulher negra a se tornar juíza no Brasil e eu, Douglas Belchior, em defesa das cotas. Do outro lado, Roberta Fragoso, advogada do DEM na Ação Direta de Inconstitucionalidade das Cotas que fora julgado no STF em 2012. Além dela, também contra as cotas, um rapaz negro chamado Éder Souza, formado em História na USP.
O debate rolou e foi muito quente, gravado, editado, com chamadas na net e na TV – como muitos perceberam.
Na noite de quarta feira (09) recebi a informação de que o bloco inteiro seria cortado por conta da legislação eleitoral, já que Luislinda Valois e eu estamos registrados como candidatos em nossos Estados.
Particularmente, desconhecia essa legislação e tampouco fui lembrado a esse cuidado. Curioso é que não faltam veiculações de personalidades que são candidatos/as o tempo todo em comerciais, programas e telejornais, sem que isso seja proibido, mesmo em período eleitoral. Enfim, foi essa a justificativa.
Sobre a edição que foi ao ar, pouco tenho a dizer. As pessoas que assistiram, em especial aquelas a que o tema tem importância, com certeza tem qualificadas conclusões. Faço apenas referência ao companheiro Joel Zito, militante incansável nas artes e no combate ao racismo que, apesar da edição, conseguiu deixar um forte recado sobre a vocação racista da TV e do Estado brasileiro.
Agradeço o cuidado de tod@s. Não estou frustrado, tampouco, surpreso. A Globo é a Globo, jamais deixará de ser. Não será por ela nem pelos demais veículos de comunicação tradicionais que faremos mudanças no país. No entanto, devemos sim – e essa é nossa opinião – aproveitar os possíveis espaços para levar nossas mensagens e nossas lutas. Por isso nos dedicamos à luta pela democratização dos meios de comunicação, construindo e fortalecendo as mídias alternativas.
Manteremos a luta política de combate ao racismo de maneira sistemática, cotidiana e comunitária, ações para as quais convido todos/as a participar e fortalecer.
Asè na vida! Paz na Caminhada! E cuidado com a polícia!
Fonte: Negro Belchior