Taís Araujo fala sobre representatividade no trabalho: “mulher negra é sinônimo de riqueza”

Enviado por / FonteVogue

Há pouco mais de três meses, assim como grande parte da população, Taís Araújo viu sua rotina mudar completamente em razão da pandemia do coronavírus.

Ela que estava no ar em “Amor de Mãe”, novela das 9h da TV Globo pausada em razão da doença, se isolou em sua casa no Rio de Janeiro ao lado dos filhos [Taís é mãe de João Vicente e Maria Antônia, do casamento com Lázaro Ramos] e do marido e precisou reconquistar sua intimidade com os afazeres domésticos: “eu sempre trabalhei fora, desde que tenho 13 anos de idade, eu não sabia fazer as coisas direito dentro de casa”, contou.

A atriz que é voz potente e inspiração para muitas mulheres, se viu também em meio a um momento importante no debate e ação sobre diversidade e racismo, potencializado por campanhas como Black Lives Matter. “Nós, atrizes, mulheres negras, não nos encaixamos em único papel especifico, somos muitas, múltiplos pensamentos, múltiplas origens, múltiplas possibilidades”, diz.

Em um papo com a Vogue Brasil, a atriz faz uma análise sobre representatividade da mulher negra no mercado, sua amizade com a ex-BBB Thelma Assis e ainda indica atrizes com quem gostaria de trabalhar e merecem mais atenção no ramo artístico. Continue lendo.

O que a quarentena fez você pensar e refletir? Já colocou alguma mudança em prática?
Coloquei todas as mudanças em prática. Primeiro porque eu morava em uma casa com muitas pessoas trabalhando, então tive que aprender a fazer tudo dentro de casa, o que acho que foi uma conquista. Eu sempre trabalhei fora, desde que tenho 13 anos de idade, eu não sabia fazer as coisas direito dentro de casa. Até tinha uma noção, mas nunca tive a expertise, então foi uma conquista muito importante. Acho que é muito simbólico cuidarmos das nossas coisas. Se me perguntarem se eu amo fazer isso, não, não amo, mas acho importante, não tem outra maneira e é assim que tem que ser. Tem a questão das crianças, de estarmos mais perto deles e ter a chance de educar os meus filhos da maneira que eu acredito porque estou com eles 24 horas por dia, diariamente. É fácil? Não, também não é fácil. Tem momentos que fico exausta, cansada, estressada. Já estamos em um momento estressante, eles também não estão na rotina deles, mas temos que ver importância nesses momentos. Essas conquistas não vem dos momentos calmos, vem dos momentos de maiores turbulências como esse que estamos vivendo. Tem uma outra coisa que acho fundamental de aprendermos na quarentena é que não temos domínio de nada, não temos controle de nada na vida. E isso de não termos uma previsão de término nos deixa muito angustiadas, sem ter o controle das coisas, mas a vida é isso e acho que vamos aprender muito com esse momento.

Já sofreu ou viveu de perto a rivalidade entre mulheres? Acredita que a mudança de paradigmas é para valer?
Claro que já. A gente já viveu isso há muitos anos até se tocar que na verdade estamos trabalhando contra nós mesmas e que unidas somos muito mais fortes. Nós, atrizes negras então, imagina. O mercado dizia o tempo inteiro que só uma de nós poderíamos entrar para um determinado papel, só tinha um na história e somos em muitas. De alguma maneira isso nos colocava em competição umas com as outras, mas, em algum momento, nos tocamos que enquanto cada uma estiver potente, potencializaremos as outras. A nossa união é mais importante e mais saudável para a gente, muito mais próspero para a carreira de todas nós. É importante que todas tenhamos oportunidades e isso é uma descoberta absolutamente recente e linda. Queremos nos amar e potencializar uma a outra.

Na sua opinião, o que não estávamos enxergando antes e agora ficou claro?
Acho que a questão do coletivo, da importância do trabalho coletivo, do quanto cada um é importante pra nossa vida, mesmo que a gente não conheça, que não tenha a mesma origem que a gente, que não faça parte do nosso dia a dia. Que a gente vive em sociedade, ela funciona como é, que um depende do outro mesmo. Solidariedade! Acho que temos enxergado o quanto ficávamos longe das nossas casas, das nossas, famílias, o quanto valorizávamos o trabalho, que é também para a nossas famílias, mas a convivência é fundamental. O trabalho diário dentro das nossas casas com nossos filhos é muito importante sim, não é sobre só o que podemos proporcionar aos nossos filhos e famílias por meio do nosso trabalho, mas acho que o pensamento é ao contrário. São muitos pensamentos que não enxergávamos antes e agora temos a chance de enxergar.

Vivemos um momento importante no debate e ação sobre diversidade e racismo. Como você enxerga tudo isso?
Espero que seja um momento de transformação também. Temos visto muitas movimentações de pessoas não negras, aliados. Aliados são muito importantes, mas eles precisam saber que as ações são fundamentais e não são só ações pontuais, é a maneira de enxergar a vida, de enxergar o outro. Enfim, vamos ver no que vai dar e espero que dê em boa coisa e boa coisa significa uma sociedade justa, igualitária e cheia de possibilidades para todos.

Pode compartilhar nomes de profissionais pretos que você admira e gostaria que tivessem mais espaço?
Eu vou me ater as atrizes negras, ok? Vamos lá, Isabel Fillardis que é dessa geração mais nova, depois de Ruth (de Souza), Zezé (Motta), Léa (Garcia)… Eu via a Isabel quando era adolescente, ver ela brilhando é incrível, ela tem que ter muito mais oportunidades do que ela tem. A Cacau Protásio que é maravilhosa, que se produz e é empresária dela mesma. Cris Vianna que é incrível, muito talentosa. Dandara Mariana que canta, dança e é excelente atriz. Dani Ornellas que é uma mulher incrível, mulher produtora. Erika Januza que é maravilhosa, todo mundo conhece e tem tido grandes oportunidades que ela aproveita todas, ela é muita inteligente. Heloísa Jorge que canta demais, talentosíssima, um furacão! Indira Nascimento, uma menina incrível de São Paulo, muito boa. Jeniffer Dias que é maravilhosa. Jéssica Ellen que as pessoas conhecem e está mostrando a potência que ela é. Juliana Alves que é incrível, tem um pensamento maravilhoso e é importantíssima para a gente. Lucy Ramos que é maravilhosa. Luellem de Castro, uma menina incrível. Mariana Nunes que é genial, Olivia Araujo que é genial também. Roberta Rodrigues que é maravilhosa, Sheron Menezzes que é incrível, Shirley Cruz que também é incrível. Enfim, citei aqui algumas que são muito importantes para todo o movimento e para o Brasil. São mulheres que precisam de mais oportunidades do elas tem para mostrar. Nós, atrizes, mulheres negras, não nos encaixamos em único papel especifico, somos muitas, múltiplos pensamentos, múltiplas origens, múltiplas possibilidades. É sinônimo de riqueza.

A Thelma Assis é a nova integrante do time de influenciadoras de L’Oréal Paris. Você acompanhou o BBB? O que pode dizer sobre a vencedora do programa e o que ela representa atualmente no mundo?
Fiquei muito feliz quando a Thelma foi contratada. Primeiro porque foi um passo importantíssimo de L’Oréal Paris. Fiquei muito orgulhosa da marca nesse sentido. Como eu já tenho esse contrato com eles há 10 anos, era quase que ocupando aquele lugar de “poxa, não vai ter mais nenhuma negra porque a negra que representa L’Oréal Paris já é a Taís Araujo?”. Quando L’Oréal Paris deu esse passo, a marca mostrou exatamente que somos muitas mulheres. Eu falo para o um tipo de mulher negra, a Thelma fala para outro tipo de mulher negra e em algum momento é claro que a gente se encontra, mas por que ter só uma representante quando somos em muitas no Brasil? Estou tão orgulhosa da L’Oréal Paris. Sem contar que a Thelma é essa piscina de carisma, absolutamente carismática e maravilhosa, uma inspiração para todas nós. A história dela é muito linda, as conquistas dela são sensacionais, ela se comunica muitíssimo bem, ela é linda! Eu tenho falado um pouco com a Thelma e a gente se identifica em alguns lugares. Estou muito orgulhosa de tê-la ao meu lado. Eu falei pra ela: “Quando acabar tudo isso, eu quero pegar a sua mão e entrar contigo de mãos dadas no prédio da L’Oréal, com o pé direito. Eu tenho 10 anos ali e eu espero que você também tenha um contrato longo porque você é muito importante pra gente”.

“Porque você vale muito, mas juntas valemos muito mais”: para você, o que significa a mudança do slogan da L’Oréal neste momento em que vivemos?
Significa um ganho para a gente, enquanto empresa e colocação, porque já estamos falando há muito tempo sobre coletividade e o slogan “Porque você vale muito” já era maravilhoso, valorizando a consumidora afinal, sem elas, não somos nada. E como agora temos falado muito sobre a conscientização do trabalho coletivo, esse slogan novo faz todo sentido.

Nesta quinta-feira (25.06) estreia o manifesto de L’Oréal Paris com Thelma Assis, Agatha Moreira, Tais Araujo, Luiza Possi, Vitória Strada, entre outras celebridades, que aborda sororidade, transformação e resulta em, após um período social conturbado, mulheres mais conscientes do poder feminino e ao mesmo tempo, humildes, enxergando tudo o que antes não víamos. “Porque você vale muito, mas juntas valemos muito mais.” O vídeo foi produzido 100% por mulheres, inclusive.

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