Taís Araújo sobre os cabelos crespos: “Me apropriei das minhas origens”

Taís Araújo falou sobre assumir os seus cabelos crespos em entrevista ao jornal O Globo, realçando como a sua transição capilar ocorreu por acidente, e como o costume de esconder este tipo de cabelo veio desde a infância.

No Universa

Taís Araújo (Imagem: Fábio Rocha TV Globo)

“A minha mãe passou henê no cabelo da minha irmã quando ela tinha 3 anos. Ela só soube como era o cabelo dela de verdade aos 47!”, comentou. “Como meu cabelo era menos crespo, passei depois pela fase do alisante e só comecei a transição capilar por acidente”.

“Eu usava um aplique em uma novela, caiu uma mecha, fiquei com medo e me assumi. Mas hoje entendo que assumir o cabelo do jeito que ele é, apropriar-se das suas origens, é honrar sua ancestralidade”, continuou.

“Porque a história do Brasil é o tempo todo a negação de ser brasileiro. Desde os povos indígenas, até as pessoas que foram sequestradas no continente africano e trazidas para serem escravizadas, a história é negar, negar, negar as nossas origens o tempo inteiro”, completou.

Taís ainda refletiu sobre a pressão de se encaixar, negar a sua negritude: “Toda questão é pertencimento. As pessoas querem pertencer. Até muito tempo atrás — ainda hoje só que com uma tomada de consciência maior — só poderia pertencer quem tivesse traços europeus”.

“Num país tão misturado como o nosso, se você tem um nariz mais próximo das pessoas do continente europeu, se tem uma boca fina, ainda assim te olham. Mas se você tem um cabelo liso, você passa, amor. Quanto mais liso seu cabelo, mais perto do ideal branco você está”, disse.

“Não ceder a essa pressão é uma conquista. Entender esse nariz, esse cabelo, essa cor, essa origem. Porque são anos negando as origens, uma vida inteira desqualificando o negro, dizendo que é ruim, feio, que o legal é ser branco. E você nunca vai ser branca”, completou.

+ sobre o tema

Como resguardar as meninas da violência sexual dentro de casa?

Familiares que deveriam cuidar da integridade física e moral...

Bruna da Silva Valim é primeira negra a representar SC no Miss Universo Brasil

Bruna da Silva Valim, candidata de Otacílio Costa, foi...

Luiza Bairros lança programas de combate ao racismo na Bahia

O Hino Nacional cantado na voz negra, marcante, de...

Elizandra Souza celebra 20 anos de carreira em livro bilíngue que conta a própria trajetória

Comemorando os 20 anos de carreira, a escritora Elizandra...

para lembrar

Dona Zica Assis responde ao artigo: “Respeite nosso cabelo crespo”

Carta de Zica Assis - Beleza Natural   Oi Ana Carolina, Meu...

Menos de 3% entre docentes da pós-graduação, doutoras negras desafiam racismo na academia

A Gênero e Número ouviu mulheres negras presentes no...

Rita Bosaho é a primeira mulher negra eleita deputada em Espanha

O resultado das recentes eleições é histórico também porque...

Rosana Paulino: ‘Arte negra não é moda, não é onda. É o Brasil’

Com exposição em cartaz no Museu de Arte do...
spot_imgspot_img

Comida mofada e banana de presente: diretora de escola denuncia caso de racismo após colegas pedirem saída dela sem justificativa em MG

Gladys Roberta Silva Evangelista alega ter sido vítima de racismo na escola municipal onde atua como diretora, em Uberaba. Segundo a servidora, ela está...

Uma mulher negra pode desistir?

Quando recebi o convite para escrever esta coluna em alusão ao Dia Internacional da Mulher, me veio à mente a série de reportagens "Eu Desisto",...

Da’Vine Joy Randolph vence o Oscar de Melhor atriz coadjuvante

Uma das favoritas da noite do 96º Oscar, Da'Vine Joy Randolph se sagrou a Melhor atriz coadjuvante da principal premiação norte-americana do cinema. Destaque...
-+=