Tempos trevosos

São tempos de trevas.

Por LELÊ TELES, do Brasil 247

Reprodução/ Twitter

Ninguém se choca ao ver uma criança de 04 aninhos aprendendo a xingar uma senhora de 67. Muito menos pelo fato de que esse senhora é a mandatária da nação, hierarquicamente respeitável em uma sociedade civilizada e democrática.

Por que ninguém foi à TV, durante a exibição do espetáculo das Raves Cívicas, e pediu para tirarem as crianças da sala? Tanto dedo em riste, tanto palavrão em cartazes, uma catarse de ódio e má educação.

Ouvíamos repórteres em deleite, a mostrar crianças e pets no meio da turba, “é a família brasileira que está nas ruas”. Sério? Com dedo médio em riste, xingando palavrão?

Trevas.

Por que até agora não apareceu um único espécime sóbrio a dizer que precisamos qualificar o nosso discurso? Por que todo mundo finge que é normal mandar uma mulher tomar no cu em um estádio lotado, para o mundo inteiro ouvir o quanto somos cafajestes?

Trata-se de uma cínica dissimulação. Quando nos falta argumentos, nada melhor do que xingar ou dar logo uma voadora.

Trevas.

Cid Gomes, o ministro defenestrado, não mostrou o dedo médio e nem xingou um palavrão, simplesmente afirmou que no Congresso Nacional há 400 achacadores.

Pronto, comprou briga. Esses mesmos 400 achacadores foram à Dilma pedir a cabeça de El Cid. Discutir praquê se o homem mostrou ter argumentos? Corta-se a cabeça e desfilam com ela numa bandeia de prata.

“Eis aqui um que ousou dizer a verdade!”

O Congresso Nacional é um grande agá, é só olhar a sua fachada. Foi lá que ACM Kid disse que ia dar uma surra em Lula, o então presidente. Essa turma gosta de ódio, porrada e palavrão. Mas por favor, dizem eles, não diga a verdade.

Marconi Perillo, governador de Goiás por 4 vezes, sempre manteve uma relação republicana com a presidenta, o que deveria ser a coisa mais normal do mundo.

Mas vivemos na Idade Mídia, em tempos de trevas.

“Acusam-no” de ter elogiado Dilma. Caiado disse que Perillo foi fraco e submisso. O diabo é que o governador não disse nada demais, apenas agradeceu a presidenta por entender e atender as solicitações feitas para o seu Estado. E que não compactuava com o ódio cego que vinha das ruas chiques.

Normalíssimo.

Uma ova. A mídia salienta Caiado, aquele que foi às ruas trajando uma abjeta camiseta da mão faltando um dedo. A mídia gosta do discurso revanchista e avacalhado de Aécio. Cultiva a escola de ódio que Serra implantou no PSDB. Querem a esculhambação, o achincalhamento, o mundo cão.

A jornalista da Globo, aquela que calada é uma Poeta, foi a primeira a meter o dedo na cara da presidenta. Mesmo assim, seus patrões a puseram de molho, esperavam que ela esbofeteasse a mandatária ou lhe cuspisse a cara.

São tempos trevosos. Tempos em que homens de bens cantam o hino nacional com o dedo médio em riste.

Tempos em que juízes sequestram bandidos e pedem delação como resgate. Tempos em que alcaguetes, réus confessos, são tratados por vossa excelência no Congresso.

Vimos há pouco um juiz que se apropriou dos bens de um escroque, chegou mesmo a ostentar um rolezinho com a caranga do ex-bilionário e ainda roubou a grana que estava sobre a guarda da justiça.

Os meninos maluquinhos da panela na cabeça – a turma do dedo médio em riste – fizeram piada e memes com escroque, acharam engraçado, disseram que ladrão que rouba ladrão…

É isso que estão a ensinar às crianças. Xingar, mostrar o dedo médio e ser hipócritas. Ao vivo, com cobertura exclusiva da Globo.

Tempos trevosos.

Palavra da salvação.

 

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