‘Tenho o maior orgulho da mistura que sou’, diz músico brasileiro radicado no Japão

Enviado por / FontePor Juliana Sayuri, da RFI

Artistas estão retomando shows neste mês no país asiático, inclusive rodas de samba, chorinho e bossa nova. Entre os cantores que voltaram a se apresentar nos palcos de Tóquio está Dario Sakumoto que trocou o Brasil pelo Japão na adolescência.

Era 1995 e Dario Sakumoto, um office-boy de 17 anos que se virava com um salário mínimo em São Paulo, decidiu que queria cruzar o mundo e se instalar no Japão.

Descendente de africanos de Angola e espanhóis de Toledo por parte de pai, e indígenas, portugueses e japoneses por parte de mãe, Dario é sansei (neto de japonês), o que lhe possibilitou obter um visto no início do movimento dekassegui, como são chamados os trabalhadores temporários que vêm migrando do Brasil para o Japão desde a década de 1990.

Trazendo um cavaquinho na bagagem, o brasileiro buscou refúgio na música para matar as saudades do Brasil, movido pelas lembranças de infância de festa e roda de samba do pai, que desde cedo lhe incentivou a se aventurar nos instrumentos de percussão.

Trazendo um cavaquinho na bagagem, o brasileiro buscou refúgio na música para matar as saudades do Brasil, movido pelas lembranças de infância de festa e roda de samba do pai, que desde cedo lhe incentivou a se aventurar nos instrumentos de percussão. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Na verdade, eu estava no Japão, mas minha cabeça estava no Brasil. Era uma cultura diferente, não entendia o idioma e nada que se passava aqui. Então, o que eu entendia? O que tinha dentro de mim, que eram as lembranças do Brasil”, diz ele, há 26 anos radicado no arquipélago asiático.

Da fábrica aos palcos

Dario trabalhou como operário nas fábricas japonesas, como fazem muitos imigrantes brasileiros até hoje. Morou em várias províncias, como Aichi, Shizuoka, Saitama, Kanagawa e Gunma, até se instalar em Tóquio, em 2011.

Com o tempo, aprendeu a língua japonesa e se aperfeiçoou no cavaquinho e no pandeiro. E, ao notar o interesse que a música brasileira desperta no público japonês, decidiu investir na carreira musical. “Bossa nova, chorinho, samba. Você está num café e de repente está escutando João Gilberto, Tom Jobim, Nara Leão, Maestro Moacir Santos, Caetano, Gil”, lembra.

Desde 2013, integra o grupo Cadência, ao lado dos músicos japoneses Mashu Miyazawa, Mitsuhiro Wada, Takeshi Obana e Tokuhiro Doi, levando sambas de Dona Ivone Lara e Pixinguinha, entre outros, a casas de shows de Tóquio. (Foto: © Arquivo Pessoal)

Aos poucos, ele deixou as fábricas e passou a viver de música, dividindo-se entre shows, workshops e aulas de ritmos brasileiros para japoneses.

Desde 2013, integra o grupo Cadência, ao lado dos músicos japoneses Mashu Miyazawa, Mitsuhiro Wada, Takeshi Obana e Tokuhiro Doi, levando sambas de Dona Ivone Lara e Pixinguinha, entre outros, a casas de shows de Tóquio. Tocou com Nelson Sargento, José Belmiro Lima (Mestre Trambique) e a Escola de Samba Águia de Ouro, além de Lisa Ono, a embaixadora da bossa nova no Japão.

Desde 2013, integra o grupo Cadência, ao lado dos músicos japoneses Mashu Miyazawa, Mitsuhiro Wada, Takeshi Obana e Tokuhiro Doi, levando sambas de Dona Ivone Lara e Pixinguinha, entre outros, a casas de shows de Tóquio. (Foto: © Arquivo Pessoal)

Mas considera que uma de suas maiores conquistas foi dividir palcos japoneses com o pai, José Pires, sambista conhecido como Seu Nenê, em 2019. Foi a primeira vez que toda a família Sakumoto Pires viajou para visitar Dario no Japão, férias que ficaram marcadas “como tatuagem” na sua memória.

Shows, shiatsu e shodō

Na pandemia, a banda fez lives, como muitos artistas, devido às declarações de estados de emergência que limitaram o funcionamento de bares e casas de shows. Com o fim do estado de emergência em outubro e a volta de shows em novembro, ele também está retomando mais atividades presenciais, com apresentações agendadas em Tóquio.

“Estar no palco é uma sensação única de estar no presente, no aqui e agora”, diz ele, que já tocou de Hokkaido (no norte) a Okinawa (no sul do país). Hoje também trabalha como terapeuta de shiatsu e estuda shodō, a arte da caligrafia japonesa.

Dario ainda sente saudade do Brasil, mas diz que, por enquanto, se encontrou no Japão, onde hoje vivem mais de 200 mil brasileiros.

“Tenho muito orgulho de ser brasileiro. Tenho o maior orgulho de ser essa mistura”, conta. Mas considera voltar para rever a família e talvez viver em um sítio no litoral sul paulista – “um dia”, diz.  

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