Território Negro

O que para alguns pode parecer mera atração turística é uma forma de resgate histórico

Nos últimos dias, tive a oportunidade de revisitar o Centro Histórico de São Luís, capital onde a influência africana na identidade histórica e cultural está presente por toda parte. No Maranhão, 79% da população é preta e parda (IBGE).

Para além da beleza do casario colonial com fachadas revestidas de azulejos (de Portugal, da França, da Bélgica e da Alemanha), manifestações culturais, como tambor de crioula e bumba meu boi, e religiosas, como o tambor de mina, são coisas lindas de sentir, de viver e de ver.

Apresentação de tambor de crioula na Casa do Tambor de Crioula, no centro de São Luis, no estado do Maranhão – Danilo Verpa – 17.mai.23/Folhapress

Ao voltar à cidade onde estive pela primeira vez em 2009, me emocionei com o Monumento à Diáspora Africana no Maranhão, instalado na praça das Mercês. O local inaugurado em 2023 é composto por oito totens gigantes (de 6 m x 4,80 m cada) pintados por artistas maranhenses pretos e pardos que retrataram assuntos relacionados ao protagonismo negro.

Um extenso painel de granito negro delimita o perímetro das obras de arte e contém dados sobre o período escravagista. Estão incrustradas na pedra as datas, os nomes dos portos de embarque, os navios tumbeiros e o número de pessoas escravizadas na África, traficadas e desembarcadas no Maranhão entre 1693 e 1841. O período coincide com o auge do tráfico negreiro na região, época em que os negros escravizados realizaram trabalho fundamental para o cultivo de algodão, principal atividade econômica da então província.

Os temas abordados nos painéis são Baobá: origens diaspóricas; Matrizes africanas: religiosidades; Territorialidade: pertencimento ao lugar; Culinária: afeto e empoderamento; Tecnologias africanas: base e inspiração; Arte e Cultura: expressões, memórias e heranças; e Intelectualidades Negras e (Re)Existências: historicidade e militância.

O que para alguns pode parecer mera atração turística é uma forma de resgate histórico, manifestação de fé e registro público da riqueza cultural e econômica produzida por milhões de pessoas negras privadas de liberdade.


Ana Cristina Rosa – Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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