“Todo dia há comunidades que saem do silêncio”, diz tradutor de livro sobre quilombos no Brasil

Ele é tradutor para o francês do livro Mocambos e Quilombos, de Flávio dos Santos Gomes, que na França se tornou “Quilombos, communautés d’esclaves insoumis au Brésil”, lançado em fevereiro de 2018. O RFI Convida hoje Georges da Costa.

Por Márcia Bechara, do RFI 
Georges da Costa, tradutor do livro “Mocambos e Quilombos”, de Fláavio dos Santos Gomes. (Foto: RFI)

A tradução do livro sobre a história das comunidades quilombolas no Brasil, a partir do século 16, é a primeira grande tradução de Georges da Costa. “Há palavras [entre o português e o francês] que não possuem correspondência. (…) Mas, em relação ao ‘marronage’ [nome dado em francês à fuga de escravos no período colonial], por exemplo , isso já existia pois a França era e ainda é, segundo algumas pessoas, uma grande potência colonizadora”, relata.

“Também houve quilombos nas colônias francesas, e havia escravos fugitivos, chamados de ‘marrons'”, conta. O livro tem uma linguagem direta e situa historicamente o desenvolvimento dos quilombos no Brasil a partir do século 16, principalmente às margens da cultura de cana de açúcar no Nordeste brasileiro.

“O Brasil passa hoje uma fase complicada. Sou apenas tradutor desse livro, mas acredito que tudo que se passa até hoje na História do Brasil está ligado à escravidão e à construção dessa sociedade brasileira, baseada até hoje em grandes desigualdades”, analisa Georges. “Acho que isso tem tudo a ver com a escravidão”, completa.

“Os quilombos foram a forma mais importante de resistência à discriminação. É importante rever isso hoje, essas discriminações ainda existem, especialmente contra as pessoas negras ou mestiças”, acredita o tradutor.

Recuperação do patrimônio e das terras quilombolas no Brasil

Georges da Costa acredita que o esforço de recuperação da cultura quilombola continua no Brasil. “No livro temos um mapa do país, que mostra, em cada estado, a proporção de comunidades remanescentes de quilombos que foram identificadas como tais”, afirma.

“É todo um processo com a participação de movimentos negros. O autor, Flávio Gomes, fala de mais de 5 mil grupos remanescentes, e todos os dias há comunidades que saem do silêncio para reclamar este direito à terra, como descendentes de quilombolas, ou de escravos libertados”, conta.

Para ver a entrevista, clique no vídeo abaixo:

+ sobre o tema

Para protestar contra o colonialismo, ativista congolês retira artefatos de museus

No início de uma tarde de junho, o ativista...

Transição capilar: como voltar a ter cachos após anos de alisamentos

A ditadura do cabelo liso finalmente acabou! Agora, a...

Programa levará dez bailarinos para curso grátis na Áustria

Dez bailarinos de todo o Brasil com idade até...

para lembrar

GUARULHOS: Comunidade Negra dos Arturos

  Começou di 12 de Novembro, na Casa do Mandato...

Veja os novos livros infantis de Edimilson de Almeida Pereira e Cidinha da Silva

Diz o ditado que Exu matou um pássaro ontem com uma...

Kehinde Wiley – “Negritude uma estética nômade”

Kehinde Wiley nasceu em Los Angeles, em uma família...
spot_imgspot_img

Ossada de 200 anos evidencia passado escravagista do Uruguai

Após mais de uma década de escavações no bairro montevideano de Capurro, uma zona historicamente conhecida pelo desembarque de populações africanas durante a época...
-+=