Mistura genética ocorreu há mais de mil anos; genes teriam vindo do Oriente Médio
REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
As tribos de caçadores-coletores que vivem no sul da África costumam ser vistas como uma espécie de modelo quase intacto dos primeiros Homo sapiens, relativamente isoladas desde que a nossa espécie surgiu há mais de 100 mil anos. Daí a surpresa que vem dos dados de uma nova pesquisa: parte do DNA dessas tribos lembra muito o de… italianos e espanhóis.
E, ao que tudo indica, a mistura genética aconteceu há mais de mil anos, muito antes de os europeus chegarem à região, a partir do século 15.
A pesquisa foi publicada na revista científica “PNAS”.
Os cientistas comparam trechos do DNA de mais de mil pessoas, pertencentes a 75 populações diferentes mundo afora, entre as quais 15 tribos “khoisan”, como são conhecidos os caçadores e pastores do sul da África.
Após analisar os dados, os pesquisadores verificaram a presença de variantes genéticas de origem “eurasiático-ocidental”. Trocando em miúdos: derivados da mesma população que originou os europeus e os povos do Oriente Médio. Um dos grupos “khoisan” parece ter herdado 14% de seus genes desse grupo.
A explicação para o mistério parece estar em outros povos da África. Entre certos grupos etíopes, por exemplo, esse mesmo componente genético parece corresponder a 50% do DNA, e com uma origem bem mais antiga, com cerca de 3.000 anos.
Daí o cenário proposto pela equipe: grupos do Oriente Médio teriam primeiro chegado ao leste da África e se misturado à população local. Mais tarde, descendentes miscigenados desse grupo teriam partido rumo ao sul do continente, daí a menor proporção de genes “eurasiáticos” ao longo do tempo. A semelhança com italianos e espanhóis seria explicada pelos ancestrais comuns de ambas as populações.
Fonte: Folha de São Paulo