Um livro independente, escrito por uma mulher negra, sobre o sucesso de mulheres negras, entre os finalistas do principal prêmio literário do país

O título que abre este artigo já deixa evidente o que vamos falar aqui. Este texto é sobre nós, mulheres negras, sobre nossos sucessos e conquistas. Mas, antes de dar sequência, permitam que eu me apresente.

Eu sou Jaqueline Fraga, pernambucana, jornalista, administradora e escritora. No ano passado, durante a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, o principal evento literário do estado, lancei meu primeiro livro. O nome da obra, aliás, já diz sobre o que gosto de falar. E escrever.

“Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho”. Este é o título do meu livro-reportagem. É nele que conto as histórias e sonhos e carreiras de mulheres negras que estão movendo o país.

Como bem nos ensinou Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. É uma frase que, sem dúvidas, virou símbolo. Mas, mais ainda, virou ação.

E foi contando essas ações que cheguei ao Prêmio Jabuti, o principal prêmio literário do Brasil. O “Negra Sou” concorre na categoria “Documentário, Biografia e Reportagem”.

Compartilho com vocês que senti uma emoção imensa ao ver o meu nome na lista dos finalistas. Especialmente por saber o quanto isso representa para tanta gente.

É importante para mim porque lançar o meu primeiro livro, e com um tema tão essencial e que me é tão caro, foi de fato a realização de um sonho. E ver onde ele já chegou é de um orgulho gigante.

É importante para as mulheres que dividiram comigo suas histórias e me permitiram dividi-las com o mundo porque é o reconhecimento de como suas trajetórias são belas e inspiradoras.

É importante para minha mãe e irmãs e todas as mulheres negras que me rodeiam porque, se eu estou lá, elas são parte disso e também estão.

É importante para as leitoras e leitores que encontram a obra porque enxergam o quanto a representatividade é necessária.

O livro foi lançado de forma independente. Sou mais uma das milhares de pessoas negras que decidem empreender. E o meu nicho foi a literatura, o jornalismo, a intelectualidade que muitas vezes nos é subjugada ou apagada.

Inclusive, é a única obra na categoria a que concorre no Jabuti publicada desta forma, sem o apoio do mercado tradicional. Mas nós chegamos lá, mostrando nossas histórias de sucesso, dizendo ao mundo que todas as profissões também são nossas.

Contar nossas vitórias permite que nos enxerguemos nesses locais. Já disse outras vezes e repito uma vez mais: Nós precisamos mostrar o sucesso de mulheres negras para que percebamos cada vez mais que esses espaços também são nossos.

Já disse Conceição Evaristo: “O meu texto é um lugar onde as mulheres se sentem em casa”. Torço para que o que escrevo também chegue dessa forma àquelas que me leem.

“Eu sou porque nós somos”. E, como eu disse na apresentação do livro “Negra Sou”: Aqui, somos nós falando sobre nós.

Minibio

Jaqueline Fraga é jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco e administradora pela Universidade de Pernambuco. Apaixonada pela escrita e pelo poder de transformação que o jornalismo carrega consigo, é autora do livro-reportagem “Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho”, finalista do Prêmio Jabuti 2020. Escreve por profissão, prazer e terapia. Escreve porque respira. Respira porque escreve. Pode ser encontrada nas redes sociais nos perfis @livronegrasou e @jaquefraga_ no Instagram.

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE. 

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