Vai-Vai mistura a África aos 80 anos de história da escola

A campeã recordista de São Paulo vai levar ao sambódromo sua ancestralidade e o futebol

TESOURO – A velha-guarda, ala “guardiã” da escola, destaca-se com os integrantes mais fiéis e apaixonados: “São como um museu vivo”, diz o diretor Carlos Roberto Franco

Retratar uma história de 80 anos em 65 minutos de desfile não parece tarefa fácil. E é exatamente por isso que o carnaval da Vai-Vai foi planejado passo a passo por quem a conhece desde o berço. A escola substituiu a tradicional figura do carnavalesco por uma comissão formada por 12 veteranos e buscou inspiração em suas raízes negras e apoio na comunidade para celebrar seu aniversário e as oito décadas de Copa do Mundo.

Última a entrar na avenida hoje, às 4h45, a Vai-Vai se orgulha de estar no mesmo lugar em que nasceu como cordão, em 1930. “Ser “vai-vaiense” é um estado de espírito. Há pessoas que não vivem no Bexiga, mas se sentem moradores do bairro por causa da Vai-Vai”, diz o historiador Fernando Penteado.

Segundo ele, os negros chegaram antes dos italianos. “Era uma espécie de quilombo, formado por escravos que se refugiavam ali. Depois vieram os italianos, e as duas culturas tiveram grande integração porque ambas gostam de festa e muita fartura”, diz Penteado, que é neto de um dos cinco fundadores.

O quinteto, após ser expulso do time de futebol Cai-Cai por causa da bagunça musical nos treinos, criou o cordão Vai-Vai. “Vamos tentar contar essa nossa história, mostrando o Vai-Vai na África e resgatando nossa ancestralidade”, explica Penteado. O carro abre-alas terá três partes com a temática africana. Uma representa a savana, outra retrata os orixás e a terceira traz a coroa da escola, que simboliza a realeza negra. A primeira ala será composta majoritariamente por negros.

Em seguida, a escola conta a história da Copa do Mundo, que neste ano estreia no continente africano. “A origem da Vai-Vai tem tudo a ver com futebol, isso contribuiu para a escolha do tema”, afirma o presidente da escola, Thobias da Vai-Vai. Com 13 vitórias, a Vai-Vai é a recordista de campeonatos do Grupo Especial, de onde nunca saiu. “Sempre gozamos de grande prestígio, mas isso se multiplicou pelo fato de termos grande preocupação com a comunidade”, avalia.


HISTÓRIA VIVA

Entre os fiéis apaixonados pela escola estão os integrantes da velha-guarda. “Muita gente não entende que a velha-guarda é a guardiã da escola. Se não fosse por ela, a Vai-Vai não seria o que é hoje. Seus integrantes são como um museu vivo”, diz o diretor da velha-guarda Carlos Roberto Franco, de 65 anos. Para integrar o grupo, que reúne hoje 70 pessoas, é preciso ter mais de 50 anos e pelo menos 30 de samba.

Odete da Costa Mercedes, a dona Odete, de 85 anos, tem sete décadas de escola. Ela garante que a roupa está “deslumbrante” para o desfile na companhia de filhos, netos, bisnetos e tataranetos. “A Vai-Vai é a minha vida. O amor que sinto por isso aqui é inexplicável”, diz dona Odete, que morava em um sobrado no terreno onde foi construída a quadra.

Nascido e criado no Bexiga, Seu Nenê será o mais velho a desfilar no chão. “A primeira vez que vi a Vai-Vai fiquei louco. Fugia de casa para acompanhar o cordão e, quando voltava, meu pai estava com a cinta me esperando”, lembra ele, que há 84 anos foi batizado de Diamantino José Pinto Barbosa.

COMEMORAÇÕES

Além do desfile de hoje e da tradicional festa do chope, que em janeiro celebrou os 80 anos da escola, a Vai-Vai prepara uma série de atividades para comemorar seu aniversário. O documentário Vai-Vai: 80 anos nas Ruas, dirigido por Fernando Capuano, deve ser lançado em junho. Além de cenas dos desfiles de 2008, 2009 e 2010, o filme terá depoimentos de personalidades que acompanham a escola, intercalados com as falas de diretores e de moradores da comunidade.

A história da escola também será contada em um livro de autoria de Nirlando Beirão e Bianca Cutait, com lançamento previsto para o segundo semestre, e em uma exposição de fotos e fantasias. A escola planeja uma feijoada dos 80 anos para abrir as comemorações e um grande baile do preto e branco.

A programação comemorativa inclui a Ópera do Bexiga, que será dirigida por Ulisses Cruz. A ópera vai resgatar a memória de figuras lendárias como Pé-rachado, que dirigiu a escola por 36 anos, e Pato N”água, “apitador” nos primeiros tempos de cordão, quando havia apenas 16 batuqueiros – hoje, a bateria reúne 320 pessoas.

 

Fonte: Estadão

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