Valdisio Fernandes: A luta pela hegemonia uma perspectiva negra

A discussão presente hoje no movimento negro acerca da definição de um Projeto Político do Povo Negro para o Brasil tem como ponto de partida a longa experiência acumulada nas lutas de resistência desde os primeiros quilombos formados na segunda metade do século XVI, somada à produção teórica dos intelectuais e daqueles que se dedicaram a compreender e desvelar a história da participação do elemento negro na formação histórica e econômica do Brasil. A elaboração desse projeto assenta-se em novos paradigmas, rompendo com a visão eurocêntrica de transplantar modos de produção e modelos de sociedade para o Brasil, ainda presente em muitas leituras de nossa história.

Do Instituto Buzios

Como contraponto à predominância de teorias eurocêntricas na elaboração de estratégias para o desenvolvimento da sociedade brasileira, alguns intelectuais e dirigentes negros têm proposto o afrocentrismo como linha de formulação de uma “nova teoria negra”. Creio que tal processo de gestação teórica, recusando-se a aceitar o desenvolvimento dialético e universal das ciências e do conhecimento, traz em seu âmago a autolimitação no curso da elaboração proposta.

A concepção da via estratégica para a emancipação do povo negro que apresento aqui, tem como principais referências as identidades ou aproximações que tenho com o pensamento político, entre outros autores, de Antonio Gramsci, Jacob Gorender e Florestan Fernandes no que concerne ao entendimento sobre os temas mencionados.

Compreendendo como base da interpretação da realidade brasileira o estudo das forças sociais produtivas na formação do país e do papel central entre estas, desempenhado pela “raça negra”, entendo que a teoria gramsciana corresponde às necessidades da luta do povo negro pela hegemonia cultural e política que possibilite a construção de uma sociedade multiétnica e igualitária.

Faço também uma avaliação sobre o movimento negro brasileiro, os avanços significativos na obtenção de direitos, de espaços políticos, institucionais. Constatando o crescente desenvolvimento da “consciência racial” e da mobilização dos negros e mestiços pela cidadania plena, enfatizo que esse processo tem acentuado a necessidade de maior definição ideológica dos diversos segmentos que compõem o movimento, como decorrência do seu próprio amadurecimento. A formulação de respostas sobre a relação que devemos estabelecer com o Estado, os governos e os partidos políticos também é aqui discutida.

 

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