Vira-virou

Papai – que mora numa nuvem faz quase 4 anos – foi meu mentor intelectual e fez minha cabeça para que eu cursasse a faculdade de Jornalismo. Estávamos no final dos anos 1970 com o Brasil sob a ditadura militar.

Foto: Lucíola Pompeu

Por Fernanda Pompeu Do Fernanda Pompeu

Meu pai sempre foi um subversivo e os jornalistas eram então fundamentais para afrouxar o garrote da censura e informar a população. Escolher ser jornalista pressupunha ter consciência política e desejar a democracia.

Daí, rachei de estudar e entrei na Escola de Comunicações e Artes da USP. Logo no primeiro ano, achei as matérias do curso caretas demais. Tinha até Estatística – disciplina que inspirou a piada:

Há três tipos de mentira: as grandes, as pequenas e as estatísticas.

Ao final do segundo semestre, me encantei com a turma do curso de Cinema. Eles me pareciam, então, mais soltos, mais lúdicos. Apesar da perplexidade do meu pai e do desconcerto de mamãe, mudei do Jornalismo para o Cinema.

Ocorreu que eu ficava pelos cantos escrevendo roteiros. Não tinha verdadeiro interesse em fotografia, som, montagem. Gostava de bolar uma história com palavras e depois imaginá-la na tela.

Esse amor pelo roteiro me levou à minha primeira investida profissional. Virei roteirista de vídeo. Escrevi roteiros para empresas, Igreja Católica, ONGs, programas de TV. Entre eles, o Mundo da Lua na TV Cultura.

Também fiz roteiros de curta-metragens. Um deles com  minha amiga e cineasta Berenice Mendes. O filme Vítimas da Vitória, dirigido pela Berenice, juntou duas coisas que amávamos: cinema e História do Brasil. No paralelo, me tornei uma boa professora de narrativas audiovisuais.

Mas dez anos depois de vida de roteirista, o vírus da virada me picou. Queria fazer outra coisa, queria o texto na página. Outro arranjo com as palavras. Me tornei redatora e editora de publicações.

Como pena de aluguel, fiz agendas, revistas, livros, folders, manuais. A maioria versando sobre feminismo, direitos humanos, racismo. Fervi os neurônios, pois esses temas eram e são polêmicos.

Quando cansei, passei a invejar os redatores publicitários que só escrevem sobre objetos de desejo: carrões, viagens, investimentos, grifes, óculos escuros e colírios. E, certamente, ganham bem mais do que redatores teclando ideias para um outro mundo melhor.

Mas essa virada não deu certo. Talvez por eu ter passado da idade, ou porque meu entusiasmo não fosse tão sincero. Pior ainda, pela soma dos dois motivos. No entanto, eu precisava urgentemente de uma sacudidela.

Ela veio. De forma moderna até. Tornei-me webcronista em um blog no Yahoo. Duas crônicas por semana. Junto ganhei a oportunidade de escrever com franca liberdade e, ao mesmo tempo, ser lida por muito mais gente.

Foi a oportunidade também de trabalhar numa plataforma nova – a digital. Isso eu aprendi: espaços que ainda não criaram tradição se prestam bem mais à experimentação e à coloquialidade. Eles são em si mesmos pontos de virada.

Brinde

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