O aumento da votação nos partidos de direita e extrema direita, em várias partes do mundo e no Brasil, desperta justa preocupação em todas as pessoas que acreditam na necessidade de preservar e cuidar do nosso meio ambiente e aperfeiçoar e fortalecer a democracia como instrumento privilegiado para o combate às enormes desigualdades que caracterizam este país e, em especial, a cidade de São Paulo.
Aliás, reportagem da Folha mostra que mortes pela polícia em São Paulo cresceram 78% em 2024 e que 2 de cada 3 vítimas são negras. Ainda assim, o poder público obstaculiza o uso de câmeras nos uniformes de policiais, mesmo sendo essa uma política bem-sucedida na diminuição da letalidade policial, inclusive dos próprios policiais.
E é assim que, nas eleições de 2022, o eleitorado da região Nordeste, a população negra e pobre e também as mulheres foram os grandes responsáveis pela derrota do fascismo nas urnas. Provavelmente por serem os grupos sociais mais afetados pela violência e pelas desigualdades, votaram por um país mais humanizado e pela preservação de nossa frágil democracia.
Naquele mesmo período, analistas do processo eleitoral levantaram a hipótese de que, como consequência da extrema polarização política, existiria um voto envergonhado, em Lula diziam alguns, ou em Bolsonaro, segundo outros. Para mim, retorna a questão neste segundo turno de 2024: nosso voto será acabrunhado, escondido ou um voto orgulhoso?
Um voto acabrunhado, na minha perspectiva, é aquele em que votamos em candidatos que já sabemos fazer parte da galera que faz apologia às armas, a uma religião única, que prega a privatização desenfreada, que não tem preocupação com o ambiente, com as desigualdades, que não gosta da ciência, dos órgãos de comunicação. Sabemos pelas relações políticas, pelos apoiadores, pela história (não pelo discurso) quais candidatos estão nesse grupo, assim como sabemos sobre os candidatos que querem investir em cidades sustentáveis e em um Brasil para toda a população brasileira.
Candidatos que apoiaram ou investiram concretamente em ações ou políticas públicas, que não deixam para trás alguns segmentos —como pobres, periféricos, negros, mulheres, indígenas, quilombolas, LGBTs, pessoas com deficiência e de religiões diversas, aí incluídas as de matriz africana.
Votar por uma cidade democrática, que seja inclusiva e preocupada com o seu meio ambiente, pode ser uma escolha em várias capitais do Brasil. Há partidos que têm recorrentemente proposto projetos de lei contra o meio ambiente, contra a transparência e a fiscalização no uso de verbas públicas. Não podemos ignorar essa realidade amplamente refletida na grande mídia. Precisamos escolher entre um voto acabrunhado, que me parece ser aquele em direção à extrema direita, e um voto orgulhoso, pelo amor e pelo cuidado com a natureza, pelo fortalecimento das instituições democráticas e por um Brasil para todos.
Esta coluna foi escrita em parceria com Flávio Carrança, da Cojira
Cida Bento – Conselheira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), é doutora em psicologia pela USP