Zoológico Humano no Rio de Janeiro. Quando o circo dos horrores entra pela porta MAR

EXHIBIT B , ou Zoológico Humano, como está sendo denominada pelos movimentos antirracistas, a peça/performance de autoria do Sul-africano Brett Bailey, apresentada em várias capitais da Europa,  sob protestos, dos movimentos negros e antirracistas.

Por marcos romão Do Mama Press

Desde sua primeira apresentação em 2012 na cidade de Berlim, passando por Londres e Paris, a peça teve que se confrontar, inclusive com proteção policial, com os protestos de pessoas indignadas com a forma e método,  como o jovem sul-africano branco, nascido ainda no período do Apartheid, apresentava negras e negros em sua performance Exhibit B.

O MAR, Museu de Arte do Rio, nos 450 anos de aniversário da cidade, resolveu convidar o autor Brett Balley, para debate em 13 de outubro, 20 horas, onde alegam na sinopse do convite:

” Os distanciamentos sociais, raciais, econômicos, religiosos, culturais impostos por séculos levaram a perseguições e abusos dos mais cruéis possíveis. Para o diretor sul-africano Brett Bailey, criador da polêmica instalação performática, Exhibit B – a obra de 12 quadros-vivos com cenas que remetem à história colonial e pós-colonial impulsionou uma série de manifestações deflagrando o debate a respeito do preconceito racial. Esse módulo faz parte da programação sobre os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro.’

A peça feita com a intenção de cortar os corações de pessoas brancas e fazê-las se condoer do sofrimento de negros e negras, quando leva os espectadores a observá-los em posições humilhantes e mudos, em retratos vivos de como teria sido o tratamento cruel e desumano nas colônias europeias em África. Os primeiros negros que a assistiram em 2012 em Berlim, relatam que a peça parece ser mais para passar uma borracha  no sentimento de culpa do espectador comum e reforçar o sentimento de que o negro com sua passividade contribui para isto. veja a opinião de Bruna Souza.

Outras opiniões mais incisivas declararam que a peça serve mais para satisfazer o sentimento sadista de determinados brancos e o sentimento masoquista de negros, que se sujeitem a situações como estas, e que não reagem.

A grande polêmica da peça/performance é a discussão deflagrada, sobre o possível  preconceito racial e racismo embutido nas suas apresentações.

Os protestos nas grandes capitais europeias causaram uma grande polêmica, com abaixos assinados com milhares de assinaturas pedindo aos governos locais que cortassem os financiamentos do governo, para este tipo de peça, e convocando a população a boicotar a peça. Abaixo o exemplo de Londres.

A grande polêmica desde o início tem sido a pergunta não respondida pelo autor até agora, sobre o quanto em suas manifestações artísticas, diretores de teatro pós-coloniais e pós-apartheid, poderiam estar carregadas de antigos preconceitos raciais  e racismo, agora travestidos e com uma roupagem nova, que garantem a continuidade do racismo?

O Zoológico Humano com aborígenes de todas as colônias, que era moda no início do século XX, nas grandes capitais da Europa, estariam agora sendo apresentados como uma crítica pós-moderna e um convite à discussão e ação. É o que o MAR apresenta em sua propaganda-convite para debater com o autor de EXHIBIT B.

Será que os curadores da mostra,buscaram saber antes de convidá-lo, sobre que tipo de racismo  está se discutindo?
Conversaram os curadores com os órgão municipais e estaduais de combate ao racismo, como Ceppir-Rio e Supir-Rj,  sobre esta iniciativa duvidosa, em um momento em que toda a cidade discute o ressurgimento do Apartheid social e racial?
Com os movimentos negros e antirracistas da cidade do Rio, sabemos que não.

Rejeitado na Europa, onde o racismo e as formas “artísticas’ neorracistas pós-modernas são combatidas na lata. O time da performance EXHIBIT B , junto com representantes culturais brancos brasileiros, anunciou sua vinda ao Brasil poucos meses atrás, através de convocações nas redes sociais, de artistas negros e negras das cidades de Fortaleza, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, para que se apresentassem para um “casting” de formação do elencos nestas cidades. O autor em pessoa iria conversar com eles para explicar a peça.

Aos atores que estranharam e tiveram dúvidas sobre os verdadeiros motivos e fins da peça, a equipe apresentava depoimentos de negros parisienses que teriam assistido e aprovado a peça e, que lideranças do movimento negro do Brasil haviam sido consultadas.

A notícia se espalhou feito fogo nas redes sociais do Brasil e dos países em que se apresentaram ou tentaram se apresentar. De Paris a Mamapress recebeu o desmentido das lideranças negras parisienses, que diziam que o autor tinha se equivocado, ao afirmar que ativistas negros-franceses concordavam com a peça.Veja a matéria.

Abaixo o vídeo da manifestação em Paris.

Em São Paulo se criou um grupo de Boicote à EXHIBIT B, que tem questionado os financiamentos privados,  municipais, estatais e federais, à peças que reforcem o racismo que já é tão contundente no Brasil, e não precisa importar novos métodos.

Membros deste grupo antirracista paulista, participaram de um debate com o autor na capital de São Paulo. A impressão que ficou e que relataram, é que o autor, já chegou ao Brasil com opinião formada, que aqui tudo é possível e que não seria contestado.  Nos depoimentos  de negras e negros sobre este debate em São Paulo, uma palavra foi recorrente, arrogância.  Arrogância do autor em não aceitar discussão.
Já se passam dois meses, e no próximo dia 13 de outubro vai defender sua peça no MAR, provavelmente já conta com um contrato para uma futura apresentação, com o dinheiro do contribuinte.

Curioso é que neste festival em uma cidade com o Porto Maravilha, o Cais do Valongo, o Museu dos Pretos Novos, todos próximos ao MAR. Uma cidade com uma população de 3 milhões de negros e,  uma profusão de diretores, artistas e produtores negros e negras, o “TEMPO_FESTIVAL” em sua 6ª edição, dirigido por Bia Junqueira, Cesar Augusto e Márcia Dias,  não tenha encontrado sequer um diretor ou diretora negra, para estar entre as 20 Performáticos elencados no festival, e vá buscar um autor que causa polêmica pelo seu possível racismo, ao expor sem direito à defesa,  as partes pudendas da alma dos negros e negras colonizados e,  que foi rejeitado pelos movimentos antirracistas da Europa.

Guerreiros Ramos, autor do livro “A Patologia Social  do Branco Brasileiro”, se estivesse vivo agora em 2015 e fosse ao MAR, com seus 100 anos poderia dizer: A cultura das elites brasileiras é uma cultura enlatada.

O Sos Racismo Brasil e a Rede Rádio Mamaterra estarão no MAR para assistir ao debate. Aguarda-se a presença de intelectuais negras e negros que só agora, estão tomando conhecimento desta informação sobre um evento decidido a sete chaves.

 

Leia Também: Show com “zoo humano” banido em Londres, vem para São Paulo

 

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