Feministas que amam homens, as desventuras de príncipes e bruxas

Sofia era feminista, ela conheceu Henrique. Eles formavam um casal bonito, todos congratulavam aquele amor. Ela passava por algumas saias justas por amar Henrique, nos almoços de família dele, por exemplo, ela tinha que segurar um pouco a língua para não criar indisposições. Ela não podia ir com o batom muito vermelho, era preciso maneirar no decote, não mostrar as tatuagens ou a depilação que ela fazia só quando tinha vontade. A família dela adorava Henrique, afinal, ele, corajoso, gostava dela mesmo tendo um gênio difícil e uma aparência nada convencional.

por Debora Sá no Cabine Privada

Cláudio era comunista e não-monogâmico, ele conheceu Bruna. Ela não ficava tão à vontade em abandonar os projetos monogâmicos, mas fez vista grossa para as próprias necessidades afetivas e tentou por amor, não deu certo, eles romperam. Bruna ficou conhecida como possessiva, insegura, retrógrada, Cláudio, ficou conhecido como um cara sensível, de incrível apetite sexual, aventureiro.

Célia era bissexual, ela conheceu Ricardo, também bissexual, ele não demonstrava ciúmes, quer dizer, só se ela transava com outros homens; por isso, Ricardo ganhou fama de companheiro, Célia, ganhou fama de insaciável e não tão confiável, uma vez que “não resistiu” e saiu com um cara que conheceu na internet (depois de uma super DR, Ricardo, o benevolente, perdoou). .

Camila era feminista, ela conheceu Samuel. Eles formavam um casal bonito, todos congratulavam aquele amor. Ele não tinha uma aparência tão convencional, mas sabia impor suas opiniões nos almoços de domingo, era estudado, de faculdade federal! Inteligente ele! Combativo! Era bastante evidente porque se encantou pelo rapaz. A família dele até que não era muito hostil com Camila, só achava um pouquinho sem sal, a outra namorada dele era bem melhor.

Susana era socialista e não-monogâmica, ela conheceu Gustavo. Ela não ficava tão à vontade em abandonar os projetos não-monogâmicos, mas fez vista grossa para as próprias necessidades afetivas e tentou por amor, não deu certo, eles romperam; Susana ficou conhecida como insensível, sexualmente egoísta, propagadora de Dst’s, Gustavo, ficou conhecido como um cara fofo, raro, que merecia ser valorizado pelo esforço.

Helena era bissexual, ela conheceu Thiago, também bissexual, ela não demonstrava ciúmes, quer dizer, só se ela transava com outras mulheres; por isso, Helena ganhou fama de empata-foda, insegura, coxinha, Thiago, ganhou fama de um incompreendido pela libido que tinha de abafar.

A releitura do príncipe encantado é o Princeso Feminista. Não importa o que ele fez, não foi por maldade… Se ele jogou na sua cara aquela frase cortante, se ele levantou a voz uma vez ou outra, se ele fez você duvidar do próprio entendimento, será que não está sendo muito dura? Ele sabe da teoria feminista, ele tem um discurso libertário, ele ao menos está tentando, diferente dos outros caras abertamente escrotos. Por isso mulheres se sentem super culpadas em deixar um Princeso partir. Porque ele está sempre certo, as inseguranças dele valem mais, as lágrimas dele valem mais e não importa como e quais as razões, se vocês terminarem é você quem ficará com fama de uma vadia difícil (para a família dele, os amigos, até entre a boca miúda nos círculos em comum), e ele, bem, ele será compreendido e aceito de braços abertos, disputado, cobiçado, se errou é porque é humano. Uma mulher feminista que ama um Princeso tem de ser paciente e perdoar deslizes, ser compreensiva é o mínimo. Um Princeso que ama uma mulher feminista já merece medalha, uma chuva de papel picado, ele não faz por favor, mas por legítima vontade e um coração muito elevado e altruísta, ele topa namorar a mulher problemática. O amor entre um homem e uma mulher feminista é competição para resolução de cubos mágicos, quando o cronômetro parar, não importa quantas combinações ocorreram individualmente, o vencedor é escolhido pela audiência e nesse quesito, os homens têm prioridade absoluta.

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