3 mulheres excluídas da sua aula de História do Brasil

Após a proclamação da Independência em setembro de 1822, nem todo mundo aceitou o fato. Muitos portugueses radicados se indignavam, especialmente no Maranhão e na Bahia. Do literal ao interior baiano, houve muita revolta.

Do As Mina na Historia

Essas três mulheres baianas são símbolos da resistência, mas quase nunca estão nos livros didáticos das escolas.

Maria Felipa de Oliveira

Mulher negra e pobre, Maria quase nunca é lembrada por seus feitos.

Ela nasceu escrava, não se sabe bem o ano. Quando liberta, levou isso como o maior bem da vida. Moradora da Ilha de Itaparica, desde cedo trabalhava coletando mariscos. Aprendeu a lutar capoeira para lutar e se defender.

Maria queria um Brasil livre dos portugueses, responsáveis pela escravização do povo africano e da sua família. Após o grito de Dom Pedro I, portugueses resolveram atacar com armas. Maria participava em defesa da Independência. Primeiro espiava a movimentação das caravelas e depois tomava uma jangada para Salvador, onde passava as informações para o Comando do Movimento de Libertação.

Cansada do papel de vigia, resolveu entrar no combate. Ela sabia que uma frota de 42 embarcações se preparava para atacar os lutadores na capital baiana. Então, Maria convidou mais 40 companheiras para a ação.

Elas e as outras mulheres seduziram a maioria dos soldados e comandantes. Após leva-los para um lugar afastado, esperavam até que começassem a tirar as roupas. Quando finalmente os homens ficavam pelados, elas davam uma surra de cansanção (planta que dá uma terrível sensação de ardor e queimadura na pele), para depois incendiar todas as embarcações.

Essa ação foi decisiva para a vitória sobre os portugueses em Salvador, permitindo que as tropas vindas do Recôncavo entrassem sob os aplausos do povo, no dia 2 de julho de 1823.

Só que Maria Felipa foi além: continuou liderando um grupo armado e reindivincando direitos mesmo após o fim da guerra.

Na primeira cerimônia de hasteamento da bandeira nacional, após a derrota definitiva dos portugueses, na Fortaleza de São Lourenço em Ponta das Baleias, Felipa e seu grupo invadiram a Armação de Pesca de Araújo Mendes, um português rico, e bateram em um vigia, mostrando que as lutas da população itaparicana não haviam terminado.

Maria Felipa continuou sua vida de marisqueira e capoeirista, admirada pelo povo. Faleceu no dia 4 de janeiro de 1873.

Ela é citada por alguns autores, como Xavier Marques no romance “O Sargento Pedro”, e pelo historiador Ubaldo Osório em A Ilha de Itaparica. A professora Eny Kleyde Vasconcelos de Farias escreveu um livro sobre sua vida, intitulado ” Maria Felipa de Oliveira: heroína da independência da Bahia”.

Joana Angélica

Aos vinte anos de idade, no dia 21 de abril de 1782, entrou para o noviciado no Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, na capital baiana. Ali, foi escrivã, mestra de noviças, conselheira, vigária e, finalmente, abadessa. Ocupava a direção do convento, em fevereiro de 1822, quando a cidade ardia de agitação contra as tropas portuguesas do brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo – que tinham vindo para Salvador desde o Dia do Fico.

Soldados e marinheiros portugueses se embriagavam e saiam atacando casas particulares.
Após tomar uma rua proxíma, decidiram invadir o Convento da Lapa. Joana, com 60 anos de idade, ficou na frente da porta e tentou impedir a entrada dos soldados no convento. Recebeu golpes de baioneta como resposta e faleceu no dia seguinte, em 20 de fevereiro de 1822.

Na época, seu assassinato serviu como um dos estopins para o início da revolta dos brasileiros. Joana tornou-se a primeira mártir da grande luta que continuou até 2 de julho.

Atualmente, Joana Angélica dá nome à avenida principal do bairro de Nazaré, onde fica o Convento da Lapa.

Maria Quitéria

Uma das principais personagens da independência, Maria Quitéria fugiu de casa para lutar pela Bahia.

Entrou para o Batalhão dos Voluntários do Príncipe, vestindo o uniforme de seu cunhado. Se passou por um homem, apresentando-se como soldado Medeiros. Lutou na Bahia de Todos os Santos, em Ilha de Maré, Barra do Paraguaçu, na cidade de Salvador, na estrada da Pituba, Itapuã, e Conceição.

Após ser descoberta pelo pai, foi defendida pelo Major José Antônio da Silva Castro, comandante do batalhão. Ele permitiu que ela seguisse no combate, pois mostrava muita habilidade com armas.

Em 2 de julho de 1823, quando o “Exército Libertador” entrou em triunfo na cidade do Salvador, Maria Quitéria foi saudada e homenageada pela população em festa.

Maria foi a primeira mulher a assentar praça numa unidade militar das Forças Armadas Brasileiras e a primeira mulher a entrar em combate pelo Brasil.

Em 28 de julho de 1996, foi reconhecida como Patronesse do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. Por determinação ministerial, sua imagem deve estar em todos os quartéis do país.

Em Salvador, uma estátua foi erguida em 1953, ano do centenário de sua morte, no Bairro da Liberdade.

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