Ilustrador baiano lança HQ inspirada em Orixás

A campanha de financiamento para publicação do romance ilustrado “Contos de Òrun Àiyé”, série de HQ’s inspiradas nos Orixás, chegou ao fim na última sexta-feira (13) com um saldo de 804 colaboradores e R$ 40 mil arrecadados. Vale ressaltar que a meta inicial estabelecida através da plataforma de financiamento coletivo “Catarse”, era R$ 12 mil. “O prazo era para junho, mas eu acho que será adiado. Como a campanha cresceu, as recompensas cresceram. Estou organizando os novos prazos”, comemora Hugo Canuto, ilustrador e idealizador do projeto, em entrevista ao Bahia Notícias. Ele credita o desempenho da campanha à força do tema, e a maneira cuidadosa como as narrativas africanas tem sido abordadas desde a repercussão positiva de uma arte em homenagem ao lendário desenhista norte-americano Jack Kirby.

Do Bahia Noticias , por Marcos Maia

Foto: Reprodução / Facebook

Canuto recorda que a arte com Orixás, que lembra a edição inaugural dos “Vingadores”, também surgiu como uma forma de unir seus interesses por mitos e pela nona arte. Na época ele vivia em São Paulo, e viu seu trabalho ganhar destaque inclusive nos meios de comunicação. “Eu entendi que estava tratando de algo que precisava de cuidado, e optei por voltar para Salvador. Se eu me proponho a fazer uma história que envolva narrativas ligadas a cultura afro-brasileira, ao candomblé, a religiões de matriz africana, eu acho que preciso está aqui para pesquisar e conversar com as pessoas. Primeiro para pedir autorização, como eu fiz, e depois para fazer um trabalho que honre essa cultura”, explicou.

Ao Bahia Notícias, Canuto adiantou que a edição, com 80 páginas, formato americano e material extra, contará com duas histórias focadas na saga de Xangô. “Ele foi um rei que existiu, o terceiro rei da dinastia Òyó. Ele existiu também como personagem histórico. Diferente de alguns Orixás, ele foi um homem divinizado”, conta. De acordo com o autor, dentro dessa narrativa existem passagens que remetem aos Itan e aos encontros de Xangô com Oxum e Iansã. “Algumas histórias dos Orixás são muito curtinhas. Se fossem levadas ao pé da letra dariam umas cinco páginas”, salienta.

Contudo, é importante salientar que Canuto não está sozinho nessa empreitada. Para manter o projeto sem que ficasse sobrecarregado entre as funções de criação e divulgação, o ilustrador convidou o também baiano Pedro Minho (que trabalha com animação) e o arte-finalista Marcelo Kina (que integra a equipe responsável pelo título “Turma da Mônica Jovem”) para colaborar no processo. “Chamei pessoas que além de serem muito boas no que fazem, também são boas de prazo. Fiquei bem preocupado com isso. Eu farei o roteiro e o lápis da história e o Marcelo vai arte-finalizar algumas páginas, enquanto o Pedro vai pinta-las. Mas, como são muitas páginas, é possível que eu acabe fazendo junto com eles”, revela.

Além das páginas do romance ilustrado, Canuto acredita que seu trabalho precisa render algum retorno social. Dessa forma, o artista procurou o bloco afro Ilê Aiyê para, junto com a entidade, desenvolver e criar uma oficina voltada à produção de quadrinhos para jovens do bairro da Liberdade. “Eu fui lá, conversei com Vovô do Ilê [fundador do bloco], conversei com Vivaldo [Benvindo dos Santos, fundador e Diretor do Ilê] e propus uma oficina para as crianças em outubro. Eu estava na correria por causa da campanha, mas me comprometi a retornar para uma conversa. Ontem [na última segunda-feira,16], eu estive com Val Benvindo, que é filha de Vivaldo, e batemos um papo. Vamos fazer ainda esse ano, acho que depois do carnaval”, disse.

A iniciativa ainda está em fase de organização, mas possivelmente contará, a princípio, com uma oficina com princípio de desenho e cor para crianças até 12 anos, e uma outra voltada para quadrinhos para jovens a partir dos 14 anos.  “Estou sempre trabalhando com comunidades e terreiros porque esse é um trabalho que na verdade é sobre uma cultura que é comum a todos nós. Por exemplo, tem um terreiro, o ‘Vintém de Prata’, que fará um evento agora em fevereiro e nós faremos uma parceria. Nossas artes entrarão em um leilão para eles arrecadarem”, acrescenta.

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