Príncipe Harry diz que ‘preconceito inconsciente’ alimenta racismo

O viés inconsciente pode levar a um comportamento racista mesmo em pessoas que não se consideram racistas. Essa é a opinião do príncipe Harry em uma reportagem que será publicada na revista Vogue britânica.

Da BBC

Príncipe Harry  (Getty Images/Reprodução)

O Duque de Sussex afirmou que esse viés é algo que “muitas pessoas não entendem” e que o preconceito é algo “aprendido com gerações mais velhas, ou através da publicidade, do ambiente em que você vive.”

“A não ser que percebamos que somos parte deste ciclo, teremos que lutar contra isso para sempre”, afirmou.

O membro da família real britânica fez os comentários durante uma entrevista com a conservacionista Jane Goodall, que será publicada na edição de setembro da revista Vogue – o volume tem como editora convidada Meghan Markle, mulher de Harry.

O assunto do preconceito inconsciente surgiu durante uma conversa sobre crianças – e se elas podem nascer com raiva ou apenas aprender a odiar.

Goodall, primatologista que estudou chimpanzés por décadas na Tanzânia, disse que “crianças não notam ‘minha pele é branca’, ‘minha pele é negra’ até alguém dizer para elas” e defende que os jovens são ensinados a odiar.

Segundo ela, os humanos têm instintos naturais, e mesmo tendências agressivas, mas nosso cérebro é capaz de controlá-los.

Harry respondeu que é a mesma coisa que o viés inconsciente, “algo que tantas pessoas não entendem, o porquê de se sentirem de certa forma”.

“Se você vai para alguém e diz ‘o que você disse, ou a maneira como você se comportou, é racista’, eles vão responder ‘eu não sou racista’.”

“Mas eu não estou dizendo que você é racista”, continuou Harry “apenas dizendo que seu preconceito inconsciente está provando que (por causa da forma ou do ambiente em que você foi criado) você tem um ponto de vista – inconsciente – que o faz olhar para alguém de uma forma diferente.”

Harry disse ainda que esse é o momento em que as pessoas começam a entender a si mesmas.

Para Goodall, sua maior conquista foi conseguir empoderar jovens para que eles pudessem entender que podem fazer a diferença em meio a uma atmosfera combativa ante adversidades e desigualdades. “A última razão para ter esperança é o indômito espírito humano.”

 

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Earlier this summer HRH The Duke of Sussex met with world renowned ethologist Dr. Jane Goodall for an intimate conversation on environment, activism, and the world as they see it. This special sit-down was requested by The Duchess of Sussex, who has long admired Dr. Goodall and wanted to feature her in the September issue of @BritishVogue, which HRH has guest edited. HRH and Dr. Goodall spoke candidly about many topics including the effects of unconscious bias, and the need for people to acknowledge that your upbringing and environment can cause you to be prejudiced without realising it. The Duke described that “[when] you start to peel away all the layers, all the taught behaviour, the learned behaviour, the experienced behaviour, you start to peel all that away – and at the end of the day, we’re all humans.” • Through @RootsandShoots the global youth service program @JaneGoodallInst founded in 1991, she has created and encouraged a global youth community to recognise the power of their individual strength – that each day you live, you can make a difference. Photos: ©️SussexRoyal / Chris Allerton #ForcesForChange

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O que é viés inconsciente?
Viés inconsciente é qualquer preconceito detectável em nossa atitude ou comportamento que funciona sem que nós mesmos sejamos capazes de perceber. Pode estar relacionado ao racismo, ao machismo, à homofobia etc.

Pode ser algo como pedir a um homem, e não a uma mulher, para apresentar um projeto, porque, no subconsciente, você presume que ele será mais confiante e assertivo. Ou, sem perceber, contratar apenas funcionários brancos, mesmo tendo negros qualificados concorrendo para a vaga. Ou tratar homossexuais de maneira diferente sem se dar conta.

“O impacto disso é muito real, independentemente da atitude ser consciente ou não”, diz Doyin Atewologun, diretora do centro de Liderança e Inclusão de Gênero na Escola Cranfield de Administração, no Reino Unido.

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