A Perversidade do Racismo e suas mutações na perpetração do crime – Por: Rodnei Jericó

O Racismo é um fenômeno que se assemelha as doenças mais avassaladoras no mundo, pois demonstra uma capacidade tamanha de mutações que de maneira muito rápida modifica sua aparência, mas em seu cerne mantém o objetivo de ofender, menosprezar, diminuir, humilhar, constranger, atingir a honra e moral de suas vítimas, com base na cor da pele como previsto na Lei 7.716/89.

Infelizmente dentro do esporte que em princípio tem o objetivo de congregar, o que temos visto é um ambiente que prima pelo desrespeito e práticas violadores de direitos fundamentais levadas a efeito por pessoas que pautando-se na impossibilidade do Estado de responder prontamente e de maneira efetiva acabam caindo no esquecimento e se propagam e perpetuam nos atos racistas.

O Estado tem demonstrado sua total incapacidade de responder firmemente ao racismo. Ontem mais uma vez no retorno da equipe do Santos Futebol Clube à Arena Grêmio, em Porto Alegre vimos novas ofensas ao goleiro Aranha, agora não com o mesmo conteúdo visto a 22 dias atrás, mas aquelas corriqueiras e que são até permissíveis (???)… dentro de um ambiente como o futebol, no entanto o objetivo de ofensas que lhe foram dirigidas ainda demonstravam que o comportamento das torcidas no Brasil tem muito para mudar.

“Não tem perdão para eles. Muita gente morreu (por causa do racismo), muita gente sofreu. Tem gente que acha que está errada a punição. Fazer o quê? Paciência. Vim jogar futebol. Dei meu melhor. Esperava ser recebido de outra maneira. Acreditava que a maioria da torcida não tinha concordado com as atitudes. – fonte http://globoesporte.globo.com/rs/noticia/2014/09/jogou-em-todas-aranha-esfria-vaias-com-defesas-e-ataca-nos-microfones.html

Em outro jogo pelo certame do campeonato brasileiro série B entre Portuguesa de Desportos e Bragantino, a torcida da portuguesa também provocou uma mutação na forma de destilar o racismo, utilizando-se do sinônimo “Aranha” para ofender jogadores da equipe do Bragantino, “Goleiro do Santos se transforma em sinônimo de ‘macaco’ após injúrias racistas sofridas na Arena Grêmio” este o relato de Robson Morelli na página do Estadão; http://esportes.estadao.com.br/blogs/robson-morelli/torcedores-no-caninde-chamam-jogadores-negros-do-bragantino-de-aranha/.

Assim como o racismo sofre suas mutações, creio que já é chegado o momento de uma mutação para um posicionamento mais firme do Estado em crimes desta natureza. Infelizmente a legislação não é tão flexível quanto as práticas racistas e isto dificulta sua tipificação, é certo ainda que não basta apenas as leis vigentes, há necessidade de um debate para traçar estratégias mais objetivas de combate ao racismo.

Muitos são os anônimos que sofrem racismo em seu dia a dia e por conta deste anonimato não ganham a mesma proporção dada ao caso Aranha, e seria impossível que isto ocorresse, pois assim estaríamos transferindo uma obrigação que é do Estado para a mídia televisiva e escrita, o que não me parece razoável.

Para que haja uma mudança no comportamento dos indivíduos faz-se necessário mudança no alicerce, e isto perpassa pela educação fundamentalmente, até chegar na reforma de todo o aparato estatal, seja na apuração, no procedimento e na legislação aplicável em casos de racismo e de muitas outras violações de direitos fundamentais.

Rodnei Jericó – Advogado .

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