13 de Maio, uma data que nos jogou ao léu

Por mais de três séculos, o negro escravizado impulsionou a economia e serviu de base à pirâmide social brasileira; durante esse período, reações individuais e coletivas – os levantes – representaram a outra face das relações entre senhores e escravos no Brasil. Humilhação ou revolta – a dominação teve limites preciosos durante praticamente todo o período colonial.

Só no final do século XVIII, quando as idéias dos liberais europeus passaram a ser difundidas entre nós, é que se começou efetivamente a considerar a possibilidade da extinção do cativeiro.Tornaram-se comuns as grandes manifestações de rua. Repetiam-se as passeatas e comícios onde a palavra de ordem era a frase de José do Patrocínio: “A propriedade do escravo é um roubo” Finalmente, em 1888, os antiescravistas conquistaram a maioria no Parlamento.

Refletindo a nova correlação de forças, a 7 de maio de 1888 o Congresso aprovava, por imensa maioria, um projeto de lei com o seguinte texto: “Artigo 1 ° . É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Artigo 2° . Revogam-se as disposições em contrário”.

Assinado a 13 de maio pela regente do trono, Princesa Isabel, o projeto transformou-se na Lei Áurea. Entretanto, ao contrário do que se esperava, a abolição não significou a emancipação efetiva da população escravizada.

Sem medidas institucionais que promovessem sua integração à sociedade, os negros foram entregues à própria sorte. Desprotegidos e discriminados, acabaram engrossando os contingentes marginalizados que se aglomeravam na periferia das grandes cidades.

 

 

Negro Soul
(Poesia de Luiz de Jesus)

Sou negro, sou alma, sou vida
Sou fruto da semente germinada
Cultivada e regada
Com lágrimas sofridas

Sou negro, sou esperança, sou história
Sinônimo de raça
Expressão de graça
Símbolo de glória

Sou gen de uma raça
Que tentaram extinguir
Contra o vírus do racismo
Lutei e estou aqui

Sou negro, sou fato, sou um ser
Tenho alma, sou humano
Frustrei todos os planos
De tentar me dissolver

Não sou uma pele negra
Nem tão pouco uma cor
Sou negro, sou gente
Que ama e quer amor

Como negro que sou
Trago marcas do passado
Mas deixo marcas no presente
Me projeto pro futuro, me libertando das correntes

Há quem diga
Que o tronco, a senzala
Hoje é memorial
Navio negreiro, foi um transporte infernal

Sou um negro, no tronco da demagogia
Levando chibatadas de hipocrisia
Preso na senzala da indiferença
E transportado no navio da ofensa

Sou um negro, atrás da minha liberdade
Sou crioulo, sou um negro de verdade
Negro soul

“E se o lutar de hoje não apresentar luz a liberdade e a igualdade, pelo menos temos que deixar acesa aos nossos descendentes o iluminar da luta que Zumbi iniciou. Temos que ter consciência de que ela não deve ser apenas Consciência Negra, mas antes de tudo, tem que ser uma Consciência Humana, Diária e Contínua. Pois o ser humano não se faz pela cor da sua pele, e sim, através de um caráter irrepreensível construído sobre o forte fundamento da família, da sua história e da educação”.


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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