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Ruanda lembrará genocídio com alerta à comunidade internacional

por Elder Pacheco via Guest Post para o Portal Geledés

Cerca de 800 mil tutsis e hutus moderados foram massacrados

O presidente de Ruanda, Paul Kagame, deve liderar uma cerimônia nesta terça-feira em Nyanza, ao sul da capital, Kigali, para lembrar os 15 anos do genocídio que matou cerca de 800 mil pessoas no país.

O local tem grande valor simbólico. Na colina de Nyanza milhares de pessoas foram massacradas no dia 11 de abril de 1994, depois que um contingente belga das Nações Unidas (ONU) que as protegia bateu em
retirada.

A Bélgica resolveu retirar suas tropas depois que soldados da força da ONU foram mortos por tropas ruandesas.

A correspondente da BBC na capital ruandesa, Karen Allen, disse que a ocasião será uma lembrança do fracasso da comunidade internacional de agir para impedir a matança e uma advertência para que líderes
mundiais não ignorem o genocídio.

À noite, será realizada uma vigília que incluirá a leitura de mensagens de solidariedade enviadas de vários países.

Ruanda deu vários passos para buscar uma reconciliação entre as comunidades tutsi e hutu e alguns dos incitadores da violência foram julgados em um tribunal na Tanzânia. Entre eles, está o ex-coronel do Exército ruandês Theoneste Bagosora, que foi condenado no ano passado à prisão perpétua por instigar o genocídio, por chefiar um comitê de extremistas hutus que planejou o massacre.

A promotoria afirmou que ele teve um papel importante no planejamento do extermínio e estabeleceu a milícia Interahamwe, gangues de extremistas hutus que executaram boa parte das mortes.

Mas muitos suspeitos continuam foragidos, segundo Allen. E, embora a nova geração tenha liderado esforços para a reconciliação, muitas pessoas mais velhas estão tendo dificuldade em perdoar os
perpetradores do genocídio.

Assassinato do presidente

A matança no país, que fica no coração da África, começou pouco depois que o avião do presidente ruandês, Juvenal Habyarimana, foi derrubado, no dia 6 de abril de 1994. Durante cem dias, uma milícia de origem étnica hutu massacrou pessoas de origem étnica tutsi e hutus
moderados.

O genocídio terminou quando rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa (RPF, em inglês) liderados por tutsis, sob o comando de Kagame, hoje presidente, assumiu o controle do país.

O genocídio teve grande impacto na região. Dois milhões de hutus fugiram para o Zaire, hoje República Democrática do Congo, quando a RPF chegou ao poder – entre eles havia, muitos integrantes da milícia
Interahamwe, intensificando a tensão entre os dois países.

Os ugandenses, por sua vez, tiveram corpos de vítimas do massacre chegando à sua porta. Cerca de 11 mil cadáveres foram encontrados no Lago Vitória, e enterrados por moradores locais.

Como parte das iniciativas para lembrar os 15 anos do genocídio, estes despojos devem ser transferidos para três covas permanentes em Uganda.

“Nós decidimos dar um enterro decente para estas vítimas do genocídio”, disse Ignatius Kamali, embaixador ruandês em Uganda.
“Nós queremos que isto seja feito em cem dias, a contar de hoje.”

Afromanifesto

Por que olhas assim para o Mundo
África?
Acaso pensas convencer o FMI, a ONU,
A OTAN, os ricaços
Produtores e fornecedores de armas
Que a exterminam?

Para onde vais Terra Mãe
De todos os povos,
Seguindo estas linhas da fome?

África dos Lumumbas
Transforma-se agora em cemitério
De vivas almas negras
Para deleite dos abutres que a destroem…

África, Continente das catacumbas sem lápide.
Primeiro, arrancam-lhe das entranhas
Os braços que, sob chicotes e as mais
Vis torturas, forjarão a felicidade
De ricos arianos, ao longo dos séculos.

África, ama-de-leite dos senhores escravistas,
Tens hoje tetas secas para os seus.
(e o mundo assiste impassível).

Em seguida,  abrem novamente seu
Peito e tuas selvas, arrancando-lhe o coração,
Nas continuadas disputas pelas minas
De ouro, diamantes, urânio, cobre
E tantas preciosas riquezas que abrigas
Em suas terras.

Sobram para sua gente as minas
Que matam, arrancam pernas, mutilam…
Sobra-lhe também a fome, já endêmica,
Que forja esquálidos semblantes
Suplicando ao mundo um pedaço
De paz e pão.

Mãe África, filha do Sol, berço da Humanidade
Sofres ainda das multivariadas enfermidades,
Curáveis epidemias, manipuladas doenças.
Homens, mulheres e crianças qual insetos,
Caem mortos pelas estradas,

Agonizam terminalmente nas camas
E corredores de “hospitais”,
Vomitam sangue, vísceras, bílis,
Pus, cérebros, até que a morte os aliviem.

África Mãe, afagastes teus primeiros rebentos
Desde o Paleolítico
Com o calor de seu clima,
Deste a eles os alimentos
Abundantes de tuas Savanas
Abristes os caminhos para a construção

De outras civilizações…entretanto,
Choras lágrimas de sangue
Jorradas como suas cachoeiras
Ao ver seus mais novos filhos
Com os corpos despedaçados
Ou crivados de balas dos
AK 47, dos M16, dos tanques e bombardeiros…

Ancestrais afro-descendentes,
Afro-americanos,
Euro-africanos,
Afro-asiáticos,
Afro-humanos de todos os continentes,
Povos afro-simpatizantes,
Afro-irmãos brancos, indígenas,
Pobres de todo o mundo!

Não permitamos a continuação
Desta bestial carnificina,
Impeçamos a cruel barbárie que sacia
A sede de sangue do capital
Detenhamos o fúnebre cortejo
Dos mortos-vivos que vagueiam
Sem destino, sem-terra, sem esperança.
Na terra que é sua,
Arrasada pela guerra suja
Que é deles,

Dos opulentos magnatas
Das Wall`s Street`s mundo afora,
Que contabilizam suas moedas
Na mesma medida
E proporção em que
Se contam os cadáveres
De nossos irmãos africanos!

Escrito em 30 de abril de 1994 Durante o Massacre de Ruanda.

Elder Pacheco;  Filho de D. Maria da Costa Santos

 

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