Ator baiano estreia ao lado dos filhos, Rocco e Camila, a peça ‘Embarque Imediato’, para festejar os 60 anos de carreira
Leandro Nunes, do Estadão
Com mais de 60 filmes na carreira, Antonio Pitanga diz que não mudou de ritmo. “Quando comecei, todos os anos gravava 5 filmes, a diferença é que agora estou rodeado de gente nova.”
Nesta quinta, 6, o ator estreia a peça Embarque Imediato, ao lado do filho Rocco, e de Camila, que faz participação especial. A montagem com texto de Aldri Anunciação aponta um caminho já trilhado por Pitanga: a busca pela identidade.
Ao considerar sua herança afrodescendente, o ator baiano viajou até a África para encontrar origens mais precisas. “As pessoas não falam que são europeias, do mesmo modo não basta ser apenas africano. Eu tinha algumas pisas e fui até o norte do continente.”
Na peça, o personagem de Pitanga também está em movimento. Ele é um africano que aguarda em um aeroporto sua oportunidade de embarcar. No mesmo local está um doutorando brasileiro que seguirá para a Europa, interpretado por Rocco. “Queria que a peça tornasse a questão da identidade um problema de todos”, diz o autor. “A diáspora acabou separando os velhos dos jovens, e o texto provoca essa reunião.”
Para o dramaturgo, o local da história também contribui para desestabilizar a ideia de identidade, que não deveria ser considerada algo imutável. “Em um aeroporto, pessoas diferentes estão juntas e precisam comprovar suas origens e para onde vão. Ninguém é uma coisa só o tempo todo. Ao se conhecerem, as personagens se transformam. Ninguém está livre de ninguém.”
Na encenação de Márcio Meirelles a presença de pai e filho em cena ampliam a força do trabalho. Já Camila aparece de maneira virtual, ao dispor da voz para os tradicionais anúncios e avisos sobre embarques e desembarques nos aeroportos. “O aspecto ancestral da peça ganha outros sentidos quando vemos Rocco e Pitanga juntos”, explica o diretor.
Logo no início da peça, as diferenças entre os sujeitos já estão postas. O papel de Rocco retrata um homem culto, com raciocínio cartesiano e narrativas encadeadas. A cultura que forma seu pensamento vem dos livros. A personagem de Pitanga carrega uma fluidez natural da oralidade, e um certo mistério, alheios à simpatia do ator.
Antes que o Estado conseguisse falar por telefone com o ator, Pitanga foi de uma partida de futebol semanal – “minha terapia” – até o set para gravar um novo filme, ao lado de Arlete Salles, no Rio. Para ele, trabalho não tem faltado. Eram cinco filmes por ano, no período da ditadura militar, lembra. Hoje não mudou tanto. “Não estou mais ao lado de Glauber Rocha (Barra Vento), Anselmo Duarte (O Pagador de Promessas) e Rogério Sganzerla (A Mulher de Todos). Agora estou cercado de muitos jovens, cheios de talento.”
E apesar das instabilidades do governo em relação à produção audiovisual, Pitanga conta que tem muitos planos para as telonas. “Quero dirigir e trazer prêmios para o Brasil. Somos fortes e a cultura nunca vai acabar, não importa o que façam. Eu vim de um lugar que não tinha nada, só a cultura, e estou aqui por causa dela.”
SERVIÇO
EMBARQUE IMEDIATO
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5ª, 6ª, SÁB., 21H. DOM., 18H.
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ESTREIA 5ª (6). ATÉ 8/3