A mãe preta já encheu sua mamadeira, vá mamar em outro lugar!

Esse negócio de mãe preta ser leiteira já encheu sua mamadeira, vá mamar noutro lugar (trecho de Cada Macaco no seu galho, Riachão)

Por Emanuelle Goes Do População Negra e Saude

Sem nenhuma intenção de escrever sobre este tema, fui obrigada a fazer isso, diante da imagem apresentada ao lado, onde uma mulher negra de seios fartos segura em seus braços uma criança branca, em alusão a Semana Mundial da Amamentação (1° a 07 de agosto)

As Amas-de-leite eram mulheres negras escravizadas que eram obrigadas a amamentar as crianças brancas da casa grande, no entanto para serem amas-de-leite essas mulheres deveriam seguir alguns requisitos. Segundo Lélia Gonzalez (1983), a figura da ama negra, da mãe preta, é o momento em que somos vista com uma imagem positiva de bondade e ternura e até vira gente, mas aí ele começa a discutir sobre a diferença entre escravo (coisa) e negro (gente) e logo, de novo, chegam a uma conclusão pessimista sobre ambos.

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E para muitos por fazer parte da casa grande essas mulheres viviam em situação de “privilégios”, quando comparadas as negras e negros que viviam na senzala, no entanto esse tal “privilégio” tinha contrapartida, afinal elas estavam em uma relação de opressão como escrava sofrendo todas as consequências desse lugar de mulher negra jovem, e estando neste lugar a sua função ultrapassava a de amamentação, sendo ela, também chamada de mãe preta, na ampla função criando os filhos dos fazendeiros, sendo o seu objeto para a iniciação sexual  e consequentemente eram estupradas pelos homens da casa (pais e filhos), e que também engravidava, alias ela precisava engravidar para a produção do leite, e por muitas vezes tinham que abortar, pois o leite produzido por elas era de exclusividade das crianças brancas. 

De acordo com bel hooks (1995) o sexismo e o racismo, atuando juntos, perpetuam uma iconografia de representação da mulher negra que imprime na consciência cultural coletiva a idéia de que ela está neste planeta principalmente para servir aos outros, aos brancos essencialmente.

No entanto, apos a escravidão as mulheres negras no campo da sobrevivência, remaneja a pratica da obrigação/doação da amamentação transformando em ganho para sustentar a família durante o final do século 19 e inicio do século 20.

Vista como um mal necessário, a utilização das amas-de-leite de aluguel foi bastante discutida entre os médicos do final do século 19 até as duas primeiras décadas do século 20, com isso as amas-de-leite, a partir de alguns requisitos como: boa saúde, ter entre 20 e 30 anos e ser solteira por conta do vinculo e da exclusividade.

Com tudo, havia consequências de ser ama-de-leite de aluguel, pois seus filhos, muitas vezes, eram colocados na roda dos expostos (tipo orfanato) e elas deixavam as crianças lá para pegar mais tarde depois dos cinco meses, mais ou menos, no entanto quando retornavam para pegar seus filhos eles tinham falecido (Ferreira Filho, 2003).

E em outros espaços, o de irmandade preta (periferias e terreiros de candomblé), a pratica da doação do leite entre as mulheres negras, sobretudo para as mães que tinham que trabalhar e que a amamentação exclusiva nunca foi uma realidade ou as que não produziam leite, as crianças eram amamentadas por vizinhas de suas iguais em raça/cor e modo de vida, eu particularmente vivi essa situação, tenho irmã de leite, minha mãe foi, o que chamamos de mãe de leite, estando ela no mesmo patamar que a madrinha ou até mesmo da mãe, sem hierarquias e submissões.

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