A minha solidariedade às vítimas da talidomida pelo mundo afora

A catástrofe iatrogênica da talidomida é um crime que ainda considero impune. Estima-se entre 10 mil e 20 mil as vítimas da talidomida no mundo, com diferentes graus de deficiências. Fabricada pelo laboratório alemão Chemie Gruenhental em 1954, a talidomida foi comercializada a partir de 1956 como antigripal e “calmante” – contra distúrbios do sono e tranquilizante – e, depois, indicada em casos de “enjoos” matinais da gravidez. Vendida em quase 50 países, nos EUA, a droga não obteve licença para ser comercializada.

Por: Fátima Oliveira

A “geração talidomida” começou a aparecer no fim da década de 50, mas só em 1961 veio o primeiro alerta sobre os casos de malformações congênitas associadas ao uso de talidomida. Foi retirada do mercado na Alemanha e na Inglaterra em 1961.

No mercado brasileiro, desde 1958, chamava-se Sedin, Slip, Sedalis e Sedalis 100. Em 1962, o governo cassou a licença do fármaco, ato só formalizado em 1964, e efetivamente em vigor com rigor, a partir de 1965, conforme dados da Associação Brasileira de Portadores da Síndrome da Talidomida (ABPST), ficando o uso restrito, desde 1966, a tratamento de hanseníase, lúpus eritematoso sistêmico, um tipo de câncer de medula, o mieloma múltiplo, de doenças inflamatórias, como a doença de Crohn, e algumas afecções dermatológicas. Proibido o uso por grávidas.

Harald Stock, diretor executivo da Chemie Gruenhental, inaugurou em Stolberg, Alemanha, em 31 de agosto passado, um memorial em homenagem às vítimas da talidomida – uma pequena escultura de bronze de uma menina sem braços e com malformações nas pernas, simbolizando as crianças que nasceram com problemas, depois que suas mães tomaram talidomida.

Na ocasião, Harald Stock apresentou, pela primeira vez, meio século depois, um pedido formal de desculpas: “Pedimos perdão por não termos encontrado uma maneira de chegar até vocês, ser humano por ser humano, ao longo dos últimos 50 anos…”. “Pedimos que considerem nosso silêncio como um símbolo do impacto provocado em nós pelo seu destino”. Incontinênti, associações de defesa de vítimas da talidomida na Alemanha, na Grã-Bretanha, no Japão, no Canadá e na Austrália emitiram declarações indignadas, considerando “inapropriado, patético e ofensivo” o discurso de Harald Stock.

No Japão, o terceiro país mais afetado pela tragédia, o diretor geral da Sakigake, um centro de ajuda social às vítimas da talidomida, Tsugumichi Sato, afirmou que “o número de vítimas teria sido menor se a empresa tivesse interrompido a venda do medicamento antes”. Freddie Astbury, consultor da associação Thalidomide Agency UK, disse que “a empresa tem que acompanhar as palavras com indenizações e não apenas ficar limitada a um pedido de desculpas”.

Os advogados da australiana Lynette Rowe, que nasceu sem as pernas e os braços, venceram a empresa alemã na Justiça da Austrália – afirmaram que “suas desculpas são muito leves, tardias e repletas de hipocrisia”, e que “durante 50 anos, a Grunenthal esteve envolvida em uma estratégia de empresa, calculada para resguardar-se de qualquer consequência moral, jurídica e financeira em função da negligência nos anos de 1950 e 1960”.

Ilonka Stebritz, da Associação de Vítimas do Contergan (nome comercial da talidomida na Alemanha), considerou o discurso do representante da empresa insuficiente: “Expressou arrependimento, mas não se desculpou por ter colocado no mercado este medicamento, que foi vendido às mulheres grávidas, sem serem realizados previamente testes clínicos”.

 

 

Fonte: O Tempo

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