A essa altura, muitas mais milhares de pessoas já assistiram as cenas da perseguição que culminou com a tentativa de execução promovida por um PM paulista contra dois jovens suspeitos em fuga cinematográfica pelas ruas da zona sul de São Paulo.
Por Douglas Belchior, do Negro Belchior
No boletim de ocorrência, lavrado no 47º DP do Capão Redondo, a autoridade de plantão demonstrou todo seu “profissionalismo e discernimento” ao classificar que, “tendo em vista as condições em que efetuou-se a prisão (…) não vislumbra o subscritor qualquer abuso do citado policial (…) Quanto aos disparos com a arma de um dos adolescentes, (…) foram acidentais”
Apesar da presumida inocência defendida na lavratura do boletim, o policial militar foi preso administrativamente e afastado das atividades operacionais. Mas e seu comando? E a Secretaria de Segurança Pública? E a Polícia Militar enquanto instituição? E o Governador Alckmin (PSDB), comandante-em-chefe das forças armadas do Estado? Não seriam estes, numa medida ainda maior, responsáveis pela prática violenta dos policiais militares e pelas chacinas permanentes que vitimam negros e pobres nas periferias de São Paulo?
É público e notório que, o que parece ser falta de competência e despreparo, na verdade é qualificativo da função da PM: matar. Nesse sentido, a ação do dia 22 não foi bem sucedida não só pelo fato da transmissão em tempo real na TV aberta, mas pelo resultado, afinal, não finalizaram os suspeitos, como de costume.
O papel do jornalismo policial na TV e sua influência na internet
Os programas de Datena (Bandeirantes) e Marcelo Rezende (Record), acostumados a glamurizar a ação violenta das polícias e transformar assassinos em heróis, neste caso, acabaram por produzir ao vivo e a cores a contraprova de suas mentiras.
Helicópteros das duas emissoras registraram a perseguição. Dois suspeitos em uma moto, em fuga, perseguidos por um policial, também de moto. Um dos perseguidos atira o capacete contra o policial. O policial responde com dois tiros pelas costas do garupa. O corpo tomba. A moto desequilibra e cai.
O policial, a queima roupa, atira quatro vezes nos suspeitos caídos. Em seguida, altera/forja a cena do crime, ao disparar duas vezes contra o chão com – ao que parece – a arma dos suspeitos (ou arma fria dele próprio?). Tudo isso ao vivo, para todo o Brasil. Cenas cotidianas de práticas habituais da polícia, que raramente viram notícia.
Na Record, o famoso Comandante Hamilton pede medalhas ao PM. Marcelo Rezende vibra ao gritos de “atira que é bandido!”. Já o Datena, na Band, se disse triste e com “dor no coração” em ser obrigado a desaprovar a ação flagrante da tentativa de execução promovida pelo PM.
É esse conteúdo, anos a fio, todos os dias, que educa grande parte da população brasileira. Processo educativo extremamente eficaz. E qual a surpresa, portanto, no apoio da população às políticas penais tal qual a redução da maioridade ou o apoio popular às ações policiais como essa que assistimos ao vivo pela TV? Qual a surpresa com a conformação política do Congresso Nacional, eleito pelo voto do povo?
Evidente que, estimulada pela força do canhão das grandes emissoras, mais que natural a proliferação de páginas e perfis de promoção de ódio e intolerância, como esta da imagem acima, seguida por quase 1 milhão de internautas, maior parte jovens. Quer saber? Iguais a essa, muitas outras.
A política das Comunicações e as concessões públicas de TV’s e Rádios estão à serviço da escola conservadora racista. E esta escola, por sua vez, à serviço das forças políticas que à reivindica.
E o governo dito progressista? E os movimentos sociais? E nós?