A ocupação da Seppir por Luíza Bairros significa um novo tempo?

Por: Fátima Oliveira

 

Leio a indicação da socióloga Luíza Bairros como a carta de alforria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).

Luíza Bairros não precisou do meu apoio para ser indicada ministra do governo Dilma Rousseff. Nem eu esperava que precisasse. Entendo como prerrogativa presidencial escolher livremente quem ocupa qualquer cadeira de seu ministério, pois ser ministra(o) é cargo de confiança da chefia do Executivo.

Aliás, eu não me dou nenhum milímetro a mais de importância, além da condição de cidadã. E está de bom tamanho. Logo, não me arvoro de querer ser a régua de qualquer escolha do primeiro ou do último escalão da Presidência da República. Todavia, na condição e a partir do meu olhar de cidadã, exerço o direito de externar a minha opinião, inclusive sobre a composição ministerial. Numa boa!

Quem credenciou Luíza Bairros para ocupar a Seppir foi a sua ilibada história de vida, sua dedicação descomunal à luta feminista e antirracista, desde que eu a conheço, nem sei de quando, mas faz tempo… A Seppir está em boas mãos. A notícia é alívio e alvíssaras. Parabenizo a presidente pelo acertado tino da escolha de uma ministra da categoria moral, técnica e política de Luíza Bairros. Ao escolhê-la, Dilma Rousseff fez um gol de placa. Se há um “ministério da Dilma” que será ocupado (e o termo é “ocupação”…) por quem entende do riscado de sua pasta é a Seppir… Ela e Dilma Rousseff são parecidíssimas: firmes como rochas e dotadas da inquebrantável têmpera do bambu.

Se o passado de alguém é parâmetro para especular sobre o futuro, antevejo novos tempos para a Seppir, sobretudo o cumprimento do seu papel original. E nunca mais o vergonhoso e repugnante amontoado de caixinhas de interesses de algumas forças políticas que atuam no varejo e desordenamente; cada uma mandando em sua semana; os deuses e o diabo tomando conta do resto; e servindo de chacota na Esplanada dos Ministérios – não só por racismo em seu sentido lato, mas também pela escassa habilidade técnica e política de grande parte de ocupantes de cargos de DAS não desprezíveis!

A minha expectativa é que o tempo Seppir-gueto-latifúndio está morto e sepultado! E Luíza Bairros sabe perfeitamente do que falo. Se eu a conheço bem, assistiremos a uma refundação da Seppir. Como negra liberta e altiva, de tutano nas pernas e cabelo na venta, dará tchau caso não tenha apoio presidencial irrestrito para mandar em seu pedaço – da escolha de pessoas confiáveis para o provimento dos cargos a não emprestar o prestígio do seu nome para acobertar quem não dá conta do recado, pois a sua reputação não foi escrita nas dunas. Está dada a largada da corrida pelas disputas de cargos na Seppir por quem acha que só perdeu os anéis e quer conservar os dedos. E ela será bruta, sem dó e sem senso de limites. Segura, Luíza!

Das montanhas de Minas, penso que chegou a hora de a Seppir fazer política: mandar convalescer em casa quem teve os dedos decepados e montar uma equipe de excelência para tornar a Seppir um espaço, no Executivo federal, de poder de prestígio que lê a realidade sob a perspectiva antirracista; elabora e propõe políticas de combate ao racismo para os demais ministérios, ao mesmo tempo em que monitora as ações da alçada de cada um. Se o governo Dilma pensa assim, indicou a pessoa talhada para tanto.

Luíza Bairros tem o perfil de quem pode concretizar a carta de alforria da Seppir em benefício do povo negro brasileiro.

Publicado no Jornal OTEMPO em 14/12/2010

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