A resistência nossa de cada dia

Por quanto tempo serei barrado?

Por quantas vazes serei visto como errado?

Até quando serei cobrado por causa do meu passado?

Por que a cor da minha pele e o meu tipo de cabelo te incomoda tanto?

Por que você pensa que alguns sonhos são tão importantes e outros nem tanto?

Por que você pensa que existe diferença entre o seu e o meu pranto?

Não ficaram no passado as chibatadas

Hoje, com uma bela maquiagem elas ainda são dadas

Apareço em várias situações, inclusive nas piadas.

Eu sei que te incomoda o meu barulho 

Eu sei que seu estômago eu embrulho

Eu sei que te firo com meu orgulho.

Você fala que em tudo me meto

Você não sabe a força que me dá o gueto.

Tenho minha pele escura como identidade e não como um fardo preto.

Tenho o atrevimento marcado na fala

E mesmo quando você me diz, cala!

Você pode ouvir minha voz que vem da senzala.

Não sou padrão de beleza para o papel da novela

Mas quando uso no cabelo com um raminho de favela

Me torno ainda mais bela

Na minha trajetória, são raros os dias azuis

Esta é a história do personagem do rap, do samba e do blues

Uma marca histórica mantém minha luz.

Durante muito tempo me deram somente o fel

E apesar de o gosto ainda não de mel

Aprendi a decidir o que pra mim é inferno e o que céu.

E para terminar, quero falar às opiniões que acham que me imponho

Não é por vingança e sim por (re) existência que vou manchar sua maldade com os meus sonhos

Você vai achar petulância pressuponho

Eu mereço tanto quanto você, momentos de alegria

E o que você chama de rebeldia

Te digo é apenas a resistência nossa de cada dia.

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

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