‘Ação extremamente errada’, diz porta-voz da PM sobre ação que terminou com jovens mortos em Belford Roxo

O porta-voz da Polícia Militar, major Ivan Blaz, admitiu nesta segunda-feira que a abordagem que terminou com dois mortos e policiais presos em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, foi uma “ação extremamente errada”.

“Infelizmente, esses jovens policiais colocaram suas carreiras em risco por conta de uma ação extremamente errada”, afirmou, em entrevista ao vivo no RJTV.

As vítimas foram Edson Arguinez Junior, de 20 anos, e Jordan Luiz Natividade, de 18 anos. Os corpos dos jovens serão enterrados no cemitério da Solidão, também em Belford Roxo, na tarde desta segunda-feira.

Segundo Blaz, a área é considerada perigosa pelo 39º BPM (Belford Roxo). Porém, ressaltou que a condução do caso pelos policiais presos, o cabo Júlio Cesar Ferreira dos Santos e o soldado Jorge Luiz Custódio da Costa, foi errada.

“Quem tem um mínimo de conhecimento sabe que as abordagens nem sempre são perfeitas. É um momento tenso. Porém, a conduta na condução dessa ocorrência foi completamente errada. Não houve qualquer forma de comunicação para os seus superiores. E mesmo assim, mesmo se tivesse havido, por tudo aquilo que nós vimos, não era possível que essa ocorrência fosse ignorada”, avaliou.

Blaz ainda defendeu a comandante do 39º BPM, que, segundo ele, fez todo o trâmite para encaminhar o caso para a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense.

“Não há muito o que se avaliar. Eles já estão presos. Há de se destacar toda a proficiência da Polícia Militar, que, ao receber as mães no batalhão, puxou o GPS das viaturas, identificou a viatura que passou próximo ao local onde os corpos foram deixados, buscou em casa os policiais, recolheu suas armas, separou a viatura para a perícia”

“Me permita discordar, a gente pode observar o policial gesticulando e se colocando em frente à moto. As informações relativas a este momento em que eles entram na viatura e o momento em que eles aparecem mortos, isso é o foco da investigação da delegacia de Homicídios.

O que mostram as imagens

Nas imagens, é possível ver que um policial atira em direção aos dois jovens que passam de moto. Em seguida, os dois caem.

Um PM dá um chute nas costas de um deles. Logo depois, o carro branco que estava parado atrás do da polícia deixa o local.

Um policial leva um dos jovens para o outro lado da rua. O outro se arrasta para o mesmo lugar. Os policiais ficam minutos ali. Um deles desaparece da imagem.

Outra câmera mostra o momento em que os jovens são algemados e levados pelos policiais. Edson e Jordan foram encontrados em outro local, distante do ponto onde foi feita a abordagem.

No carro dos policiais, a perícia encontrou o que acredita ser manchas de sangue no chão e no tapete do veículo.

Na primeira câmera, o policial aparece subindo na moto e deixando o local. O outro PM entra no carro e também dá a partida.

Em depoimento, os dois policiais disseram que o piloto da moto perdeu o controle e eles caíram, e que não houve nenhum disparo.

O cabo Júlio Cesar disse ainda que os rapazes foram algemados para levá-los até a delegacia e, por isso, o soldado foi dirigindo a moto com os dois algemados no banco de trás.

Eles disseram ainda no depoimento que uns 40 metros depois resolveram liberá-los porque concluíram que nem os jovens e nem a motocicleta tinham problemas.

A prisão dos policiais foi concedida pelo juiz de plantão com o agravante de não terem informado ao comandante do Batalhão o que havia ocorrido. O soldado Jorge Luiz afirmou no depoimento “não ter o que relatar”.

Família dos jovens

Jordan Luiz Natividade, de 18 anos morava com a mãe, o padrasto e a irmã menor em São Bernardo, Belford Roxo. Ele ajudava o padrasto e cursava o ensino médio, fazendo aulas online na Escola Municipal Manoel Gomes.

Natália Esteves, tia de Jordan, disse em entrevista ao telefone que a primeira informação que receberam era de que o sobrinho e seu amigo tinham sido presos.

“Esse é o sentimento de revolta. Porque ali na situação ele não reagiram em nada. Nada que os policiais pudessem se sentir ameaçados. Não tem resposta.”

Mãe fala em covardia

Renata, mãe de Edson, disse que o filho era brincalhão, alegre e amoroso, que gostava muito de jogar futebol. Ela também lamentou a atuação dos policiais.

“Em vez de proteger o cidadão, eles fazem covardia”, resumiu.

A Subsecretaria de Estado de Vitimados informou que ofereceu auxílio psicológico e social para as famílias dos rapazes.

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