A delegada Celi Carlota, da 1ª Delegacia da Mulher (DDM), indiciou, na terça-feira, 18, um homem acusado de estuprar uma estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 2011. O caso foi denunciado publicamente na Assembleia Legislativa, na semana passada, e motivou novas denúncias e a proibição temporária de festas no câmpus.
O suspeito continua em liberdade. De acordo com a Secretaria da Segurança, faltam dois depoimentos para encerrar o inquérito e remetê-lo à Justiça.
Na época do crime, o acusado era funcionário terceirizado da USP e participava da festa Carecas no Bosque, organizada pelo Centro Acadêmico Oswaldo Cruz da FMUSP. A vítima dormia em um local chamado “cafofo”. Segundo testemunhas, o rapaz ofereceu dinheiro para os seguranças da festa para que pudesse entrar no “quarto”. Como havia bebido, a estudante não viu a cena. Ela acordou em um hospital, levada por colegas, e foi avisada por um amigo de que poderia ter sofrido um abuso.
Uma das testemunhas, que também se apresentou como amigo da vítima, relatou que a tinha deixado dormindo e, quando voltou, horas depois, viu o homem no “cafofo” com a calça abaixada – foi quando o agrediu e o expulsou da barraca. A denúncia na Delegacia da Mulher foi feita no dia seguinte.
O episódio veio à tona novamente quando a estudante, que preferiu não ter o nome divulgado, denunciou pessoalmente o caso em audiência pública na Assembleia Legislativa, na semana passada. Além dela, outra aluna relatou ter sido estuprada, em 2013, em outra festa da FMUSP, a Cervejada do Sexto Ano. A universidade afirma que uma sindicância apura o caso.
Outros alunos ainda contaram episódios de racismo, homofobia e machismo nas confraternizações da FMUSP, principalmente em trotes. A advogada de defesa do rapaz, Nereide de Oliveira, não foi encontrada pela reportagem até as 23 horas de quarta-feira, 19.
Álcool
Ontem, o presidente da comissão da FMUSP que investiga casos de violência na unidade, Milton de Arruda Martins, foi ouvido pelo Ministério Público. O órgão investiga pelo menos oito casos de abuso sexual na faculdade. De acordo com Martins, foram apresentadas à promotora Paula Figueiredo, dos Direitos Humanos, medidas estudadas pela faculdade para coibir atos de violência. Entre elas, está maior controle sobre as festas e sobre a venda de bebida alcoólica nos eventos da unidade.
“Nossa proposta inicial não é a proibição (do álcool), mas uma política de redução de danos. Por exemplo: negociar que em festas só seja possível o consumo de bebidas de baixo teor alcoólico, que seja proibido o ‘open bar’, que as bebidas sejam vendidas, que haja líquidos não alcoólicos à vontade e alimentos”, diz.
“A proibição total significa fazer com que festas sejam feitas fora do câmpus. Essa pode ser uma solução que resolve o problema do diretor, mas não resolve o problema da sociedade”, defende ele. As medidas serão avaliadas pela diretoria.
Dez casos
Ele afirma que, somando casos de abuso sexual, racismo, homofobia e outros tipos de violência, são pelo menos dez casos de violações de direitos humanos que chegaram ao conhecimento da comissão. Questionado sobre uma possível omissão da FMUSP, Martins admitiu que houve falha. “Acho que nossa instituição deve se sentir responsável, sim, porque se aconteceram abusos na nossa instituição não devíamos ter permitido isso. Podíamos não saber, mas isso não é desculpa, temos de assumir nossa responsabilidade.”
A Promotoria informou, em nota, que terá reunião na segunda-feira, 24, com a Procuradoria da USP e com a diretoria da FMUSP para análise das propostas formuladas pela faculdade. Professor da FMUSP, Martins assumiu a presidência da comissão após a saída do também docente Paulo Saldiva, que deixou a função ao saber dos abusos denunciados na Alesp. As informações são do jornal