Advogado relata racismo após criança negra pedir sorvete no Leblon

“É por isso que esta gente não vai embora daqui mesmo”, disse senhora a advogado que pagou sorvete a menino negro

Do iG

Reprodução/Facebook
“Surreal”, descreveu Breno Melaragno Costa na rede social, sobre racismo que garoto negro sofreu em sorveteria

Melaragno Costa relatou, em um post no Facebook, o racismo que uma criança negra sofreu depois de ganhar um sorvete. Segundo o post na rede social, o advogado estava com a família em uma sorveteria no Leblon, no Rio de Janeiro, quando uma criança negra chegou tentando vender balas. Depois de não conseguir, a criança pediu a Costa que pagasse um sorvete, pedido que foi atendido prontamente pelo advogado.

Costa conta que, logo após ter comprado o sorvete para a criança, uma senhora se aproximou e perguntou ao advogado se ele é morador do Leblon. “Respondi que sim e fiquei tentando reconhecer quem seria aquela senhora, uma ex-vizinha, uma ex-professora, etc. Poderia esperar qualquer coisa, menos a frase que veio logo a seguir”, conta o advogado. “Porque com o senhor fazendo isso, aí é que esta gente não vai embora daqui mesmo”.

O advogado relata o choque que levou por causa dessa afirmação da senhora na sorveteria. “Estupefato, estampei um sorriso no rosto como forma de autocontrole e, educadamente, não resisti: ‘a senhora agora vai me mandar pra Cuba?’. No que ela respondeu, ainda para piorar, apontando para a criança: ‘é este tipo de gente que estraga o nosso bairro’”.

Costa conta que não teve coragem de olhar para o rosto da criança. “Sorri novamente e disse ‘quem estraga o nosso bairro é parte dos próprios moradores que infelizmente pensam como a senhora’”.

O professor da PUC-Rio conta que nasceu, cresceu e sempre viveu no Leblon. “Sei muito bem como parte dos moradores pensam, mas jamais havia presenciado cena desta natureza. Independente de concepções, de opiniões políticas ideológicas, partidárias, etc, a crueldade da atitude daquela senhora foi explícita, pública, dita em alto e bom som, sem qualquer pudor, eivada de ódio daquela pobre criança”, relatou, na rede social.

“Vivo criticando a esquerda por uma aparente vulgarização do termo ‘facista’, por inúmeros motivos que aqui não cabem. Mas é fato que nossa elite nestes últimos tempos de excesso de opiniões raivosas e superficiais em detrimento de um mínimo de conhecimento e reflexão, se aproxima cada vez mais de um caminho irracional e suicida”, critica.

“Poucos, muito poucos, lucram com isso e certamente não é o (a) morador (a) do Leblon, que se ilude em viver num principado isolado do resto da cidade e do país”, diz.

 

+ sobre o tema

‘O debate sobre ações afirmativas no audiovisual é inevitável’

Logo em seus primeiros meses de existência, o Coletivo Damballa,...

Vítima em operação da PM, filho de Tati Quebra Barraco é sepultado no Rio

Organizações de direitos humanos e antirracis Adicionar novotas divulgaram notas...

Racismo: a máquina de matar e encarcerar negros – Deborah Small

Os fatores que levam ao racismo resultam em mortes...

para lembrar

Repórter da Globo comenta caso de racismo sofrido: ‘Não somos otários’

O repórter Manoel Soares, da Globo, falou hoje sobre...

População impede prisão de estudante na Piedade após confusão com policiais

Após ação de policiais civis não identificados, cerca de...

Racismo: uma herança que violenta o Brasil

Aprovado no último dia 15 de julho, o relatório...

Israelenses de origem etíope protestam contra racismo

Ao menos mil israelenses de origem etíope e militantes...
spot_imgspot_img

Justiça decreta prisão preventiva de PM que atingiu jovem em São Paulo

O policial militar Tiago Guerra foi preso em flagrante e encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes, onde cumpre prisão preventiva decretada pela Justiça paulista,...

A maldição da eterna introdução

Discursos não são livres. Assim pontuou Michel Foucault em um dos seus principais textos, de 1971. Há estruturação, angulação, filtragem e mecanismos específicos para limitar e...

Processos por racismo aumentam 64% no Brasil em 2024, mas punições demoram e são brandas

Para a gerente de uma pet shop de Salvador, Camilla Ferraz Barros se identificou como juíza, disse que poderia prendê-la e a chamou de...
-+=