África: “Não se trata somente de garantir a segurança alimentar, mas sim de exportar”, diz Kofi Annan

O ganense Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, é presidente do conselho da Aliança para a Revolução Verde na África (AGRA).


Le Monde: Quais são as perspectivas para a agricultura africana?
Kofi Annan: O crescimento demográfico exige que se produzam mais alimentos. Mas é preciso, antes de tudo, mudar a mentalidade: não se trata somente de garantir a segurança alimentar da África, mas também de poder exportar. O setor privado tem um papel importante: é preciso poder fornecer aos camponeses sementes melhoradas, transformar produtos para levá-los ao mercado, ser capaz de armazená-los por muito tempo. O importante é que os camponeses possam satisfazer suas próprias necessidades, e vender seus excedentes no mercado.

Le Monde: Mas quase 300 milhões de africanos nem conseguem saciar sua fome. Qual é a solução?
Annan: No Mali, pesquisadores desenvolveram um sorgo que rende 4 toneladas por hectare no lugar de um. O governo está totalmente engajado em transformar a agricultura do país. Existe uma rede de 150 lojas que fornecem sementes, adubos e ferramentas agrícolas, evitando assim que os camponeses tenham de percorrer grandes distâncias para se abastecerem. Acredito que essa combinação de pesquisa, vontade política e boa organização do mercado se propagará. A irrigação também será desenvolvida.

Se agirmos sobre todos esses fatores, não há razão para que não aconteça uma revolução verde na África. Mas uma condição essencial é a vontade política. Isso está começando a acontecer: onze governos africanos estão investindo 10% ou mais de seu orçamento na agricultura.

Le Monde: Não são muitos…
Annan: Isso se espalhará. Muitos africanos estão se dando conta de que não se trata somente de garantir a segurança alimentar, mas também de criar empregos e de limitar o êxodo rural. A responsabilidade dessa situação também é do Banco Mundial, que não investiu na agricultura durante vinte anos. Isso começou a mudar há dois anos.

Le Monde: Uma proteção alfandegária é necessária para sustentar os pequenos camponeses africanos?
Annan: Na Europa e nos Estados Unidos, os agricultores são amplamente subvencionados pelos governos. O mesmo deveria acontecer na África. Acredito que o protecionismo, por princípio, corrompe o mercado e cria problemas. Mas para ajudar os camponeses africanos, certas medidas podem ser necessárias.

Le Monde: O que o sr. pensa sobre os transgênicos?
Annan: Na AGRA utilizamos os métodos convencionais de melhoria das plantas. A adoção dos transgênicos depende da escolha dos países. Na Europa, em geral eles não são aceitos. O mesmo acontece na África.

Le Monde: A África poderá superar o problema da mudança climática?
Annan: No Mali, fiquei muito surpreso com o conhecimento que os camponeses têm da mudança climática. Percebi que eles já a estão sentindo, e que já começaram a se adaptar. Mas é preciso que os economistas e os pesquisadores trabalhem realmente com eles, senão não conseguiremos transformar a agricultura africana.

Tradução: Lana Lim
Fonte: UOL

+ sobre o tema

Descendentes de escravos africanos do Brasil regressam às origens 500 anos depois

  Bissau -  Um grupo de quilombolas do Maranhão, Brasil,...

Em Tempos de Necropolítica Reinventamos a Necropoética.

A 22a. Mostra de Cinema de Tiradentes começou no...

Raissa Santana, a Miss Brasil 2016, quer mostrar que mulheres negras podem TUDO

Nascida na Bahia, Raissa Santana se mudou, aos seis...

Me vi no cinema – Por Elisa Lucinda

Se, na primeira vez, o filme “Café com canela”...

para lembrar

Nascido em quilombo, homem de 126 anos pode ser o mais velho do mundo

José Aguinelo dos Santos nasceu em 1888, no Ceará. Ele...

Travessias da Cor: O sonho brasileiro

A estabilidade de democracia e uma economia em desenvolvimento...

Juliana Alves será rival de Camila Pitanga em ‘Babilônia’

Longe das novelas desde “Cheias de charme”, Juliana Alves...

Mandela destaca honra de realizar Copa na África

CIDADE DO CABO (Reuters) - A África do Sul...
spot_imgspot_img

Ossada de 200 anos evidencia passado escravagista do Uruguai

Após mais de uma década de escavações no bairro montevideano de Capurro, uma zona historicamente conhecida pelo desembarque de populações africanas durante a época...

Paraense Brisas Project acaba de lançar seu EP PERDOA

Está no mundo o primeiro EP de Brisas Project. PERDOA é uma obra em quatro faixas que explora uma sonoridade orientada ao Pop Rock, Lo-fi e...
-+=