Aluna do Insper acusada de chamar colega de macaca é expulsa, mas volta às aulas com liminar

Instituição de São Paulo diz considerar inaceitáveis condutas que contrariem seus valores e os direitos humanos

Uma estudante de direito do Insper, universidade de elite em São Paulo, foi expulsa após ser acusada de proferir injúria racista a uma colega, mas conseguiu liminar (decisão provisória) para retornar às aulas. Segundo relato, o termo utilizado pela agressora foi macaca, durante uma discussão.

O processo administrativo, entre a denúncia e o encerramento do vínculo, foi realizado entre agosto e setembro. Todas as partes foram ouvidas antes da decisão, e provas, recolhidas.

Questionado pela reportagem, o Insper confirmou o caso, mas se negou a dar detalhes. A apuração por lá realizada, afirmou o centro de ensino, seguiu rigorosamente os ritos internos e foi tratada com a máxima celeridade e seriedade, de forma a garantir a dignidade e a preservação de todos os envolvidos.

“Como uma instituição que não tolera qualquer forma de preconceito, o Insper considera inaceitáveis condutas que contrariem seus valores e os direitos humanos e reitera o compromisso com a promoção de um ambiente seguro, respeitoso e inclusivo, enfatizando a importância de práticas antiassédio em seu cotidiano”, disse a universidade em nota.

Semanas após ser expulsa, porém, a estudante conseguiu uma liminar para voltar a frequentar as aulas. Colegas confirmaram seu retorno. O Insper informa que o processo em questão tramita em segredo de Justiça e, por isso, não pode comentá-lo.

A situação gerou revolta entre matriculados no local, mas há medo de comentar o assunto, principalmente entre os negros. Todos aqueles que concordaram em conversar com a Folha o fizeram em condição de anonimato. Isso porque eles temem alguma retaliação de outros estudantes.

Há poucos alunos negros ou pardos no Insper. Eles são minoria mesmo entre os bolsistas.

Em 2023, segundo levantamento da própria organização, 119 dos 340 contemplados (35%) com algum desconto na mensalidade –que ultrapassam os R$ 7.000– se declaravam pretos e pardos.

O Insper possui uma comissão de diversidade, igualdade e inclusão, focada na atração e acolhimento de minorias. A recente denúncia de injúria racial movimentou seus membros, que buscaram acolher a vítima, inclusive disponibilizando psicólogo.

Após divulgação do caso internamente, estudantes iniciaram uma campanha. Eles têm feito publicações com a frase “Não existe espaço para racismo no Insper”.

Leia íntegra da nota do Insper

O Insper informa que concluiu um processo administrativo relacionado a um caso recente de discriminação entre estudantes, conduzido em duas instâncias por órgãos colegiados da instituição, resultando no encerramento do vínculo acadêmico de uma das partes. O caso seguiu rigorosamente os ritos internos e foi tratado com a máxima celeridade e seriedade, de forma a garantir a dignidade e a preservação de todos os envolvidos.

Como uma instituição que não tolera qualquer forma de preconceito, o Insper considera inaceitáveis condutas que contrariem seus valores e os direitos humanos. Reitera o compromisso com a promoção de um ambiente seguro, respeitoso e inclusivo, enfatizando a importância de práticas antiassédio em seu cotidiano.

Diversas ações estão em andamento, entre elas treinamentos destinados à divulgação da política antiassédio e discriminação para todos os membros da comunidade Insper. Essas iniciativas, assim como outras voltadas para a promoção da diversidade, equidade e inclusão, são fundamentais no planejamento estratégico da escola.

O Insper está continuamente comprometido em criar um ambiente em que todos se sintam valorizados e respeitados. Por isso, conta com uma Área de Diversidade, Equidade e Inclusão, um marco significativo em seu compromisso contínuo com a promoção de um ambiente cada vez mais inclusivo e diverso. Possui também um Programa de Bolsas a alunos de baixa renda que atende a 10% dos alunos da graduação.

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