Adolescente de 17 anos foi abordado por policiais militares no sábado, em Araçatuba.
Corporação informou que vai instaurar inquérito para apurar os fatos.
no G1
O rapaz que morreu na madrugada de sábado (19) após ser detido pela Polícia Militar em Araçatuba (SP) era um estudante de 17 anos. De acordo a família da vítima, André Luís Parruda Goulart Siqueira Júnior não usava drogas nem tinha passagens pela polícia. O corpo foi velado no Memorial Laluce de Araçatuba e enterrado às 9h, desta segunda-feira (21).
A mãe do adolescente, Doralice Soares Arruda, foi até a delegacia no sábado (19) à noite para registrar o desaparecimento do filho, mas lá descobriu que ele estava morto.
Ela questiona a ação da polícia porque acredita que o filho não teria força para reagir a ação de cinco policiais. “Como é que os policiais fazem uma coisa dessas e falam que um menino, um adolescente de 17 anos, pesando 63 quilos, vai bater em quatro ou cinco policiais armados? O menino estava andando a pé, sem arma nenhuma, não estava traficando, não tem passagens pela polícia, não tem nada”, diz. Ela disse que o filho ia fazer 18 anos no próximo dia 28 de março.
De acordo com a polícia, uma equipe de policiais foi abordar o rapaz que estaria em atitude suspeita na rua Cristiano Olsen, mas ele fugiu e só foi detido na rua América do Sul, onde teria resistido e entrado em luta corporal com os policiais.
Ainda segundo informações da polícia, um dos oficiais precisou aplicar um golpe, conhecido como ‘mata leão’, para imobilizar o rapaz. Ele desmaiou e foi levado para o pronto-socorro da Santa Casa de Araçatuba, onde morreu.
Por telefone, o delegado seccional de Araçatuba, Mauro Gabriel, disse à TV TEM, que a causa da morte foi asfixia e que o adolescente tinha marcas pelo corpo.
O tio da vítima, Vanderley Neres Santiago, diz que teve acesso as fotos da perícia e ficou assustado com o que viu. “Pelas fotos que observei, os indícios são de estrangulamento, além disso a gente percebe que o corpo tem escoriações, o rosto tem uma espécie de descoriação, parece que houve um arrastamento ou alguma coisa parecida”, diz.
Santiago afirma que a família está indignada porque realmente não acredita que o estudante tenha reagido à polícia. “Se a polícia realmente tiver feito a abordagem onde disseram ter feito, ele estava no caminho sentido à casa dele. Não consigo acreditar que ele tenha reagido, porque ele não era usuário de drogas, nem tinha passagens pela polícia e não tinha tatuagens pelo corpo. A polícia só o abordou porque ele estava sozinho de madrugada voltando para casa”, diz o tio.
No velório os amigos do adolescente tentavam entender o que aconteceu. O auxiliar de escritório Eliseu Santiago Araújo era amigo de escola de André e diz que ele nunca teve nenhum problema com a policia. “Ele sempre foi um menino tranquilo, nunca reagiu a nada, nunca brigou com ninguém, ninguém reclamava dele”, diz. Mesma opinião é a da vizinha do estudante, a dona de casa Célia Moraes. “Ele é tranquilo, nunca vi nada de errado com ele, tranquilo e calmo”, afirma.
O tio da vítima diz que a família já pegou todos os documentos disponíveis e vai entrar na Justiça contra o Estado e o policial que aplicou o golpe no adolescente. “A gente espera uma providência, que no mínimo esse policial seja punido e exonerado da corporação, porque o policial não seguiu o procedimento operacional padrão da polícia”, diz.
O pai do adolescente, André Luís Arruda, e a mãe dele dizem que esperam Justiça. “Eu só quero que esclareça o porquê que chegou ao ponto de precisar matar ele, de estrangular, de bater, de agredir”, diz.
Em nota divulgada no sábado (19), a Polícia Militar informou que o caso foi registrado como homicídio culposo e a delegada de plantão arbitrou fiança de R$ 880, que o policial pagou para responder em liberdade. A corporação informou ainda que vai instaurar inquérito para apurar os fatos. Segundo a corporação, os cinco policiais militares envolvidos na ocorrência tiveram ferimentos ao tentar deter o rapaz e já passaram por exames de corpo de delito.
A Polícia Militar informou, neste domingo (20), que não vai comentar as alegações feitas pela família do rapaz e que todas as informações serão investigadas por meio do inquérito policial instaurado para apurar o fato. A polícia disse que mantém as informações da nota oficial divulgada no sábado, de que o rapaz foi abordado em atitude suspeita, resistiu à abordagem, agrediu os cinco policiais com socos e pontapés e que, por isso, teve de ser imobilizado pelo policial. Ainda segundo a polícia, o procedimento é comum nesse tipo de abordagem e os policiais são treinados para aplicar esse golpe.