Apenas 3% das bonecas à venda em lojas virtuais no Brasil são negras, aponta estudo

A questão da representatividade negra na mídia tem sido debatida no Brasil e do mundo. Se o ativismo digital tem feito grandes marcas de cosmético e beleza repensarem seu posicionamento em prol da celebração à diversidade estética, o mesmo não ocorre no mercado de brinquedos.

Por  Amauri Terto, do HuffPost Brasil

Às vesperas do Dia das Crianças, a ONG Avante, de Salvador, que promove a campanha Cadê nossa boneca?, divulgou um levantamento sobre a oferta de bonecas de pele escura disposíveis para compra no Brasil. Entre abril e julho, a entidade fez um levantamento nos sites das maiores frabricantes de brinquedos do Brasil.

De um total de 1.945 modelos de bonecas encontradas, apenas 131 são negras.

De acordo com Ana Marcilio, coordenadora da campanha e de projetos da Avante, o estudo foi feito em duas etapas.
A partir de uma relação feita pela Fundação Abrinq, foram inicialmente consultadas as 31 principais empresas fabricantes do setor. Dessas, apenas 16 possuem bonecas negras no seu portfólio, e dos que fabricam bonecas negras, a proporção em relação a bonecas brancas é bem reduzida.

O fabricante com maior número de bonecas negras foi o Milk, que apresenta em seu site 72 modelos, entre 475 que fabrica. Já os que registram maiores porcentagens foram Miele, com 25% dos modelos em bonecas negras, seguido por Sideral, com 23%, e Milk, com 15%.

A segunda etapa do estudo consistiu em levantar, dentre os principais revendedores online de brinquedos, a quantidade de bonecas negras disponíveis para compra. Foram analisados três sites de e-commerce: Americanas.com, Walmart.com e Ri Happy; e a proporção foi ainda menor.

Em média, não mais que 3% das bonecas disponíveis para compra são de pele escura.

A pior situação foi identificada no site das Americanas.com, em que do total de3.030 bonecas à venda apenas 18 eram negras, representando apenas 0,6%. No site da Ri Happy, das 632 bonecas comercializadas online, apenas 17 modelos eram de negras, enquanto no e-commerce do Walmart a proporção era de apenas 20 entre 835 do total.

“Moramos em um país em que, segundo dados do IBGE, negros e pardos representam 53,6% da população brasileira. Ainda assim, nota-se a grande prevalência de bonecas brancas nos portfólios dos fabricantes. Em média, a proporção das mesmas em relação às bonecas negras é de 95%”, analisa Ana.

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Cadê nossa boneca?

Lançada em abril deste ano com o objetivo de promover reflexão sobre padrões estéticos e representatividade negra na infância, a campanha Cadê nossa boneca?tem atualmente cerca de 400 mil pessoas em sua página no Facebook. A ideia do projeto é sensibilizar a sociedade, a indústria e o varejo para a necessidade de diversificação de produtos.

A coordenadora da campanha, Mylene Alves, conta que em breve o projeto lançará um mapa colaborativo, em que pais, mães e responsáveis poderão oferecer e ter acesso a informações sobre as lojas físicas de brinquedos e seus produtos.

“Mudanças sutis como esta são um grande passo na construção de uma sociedade que respeita e aceita suas diferenças raciais, contribuindo assim para que haja diminuição do preconceito, além de elevar a autoestima das crianças, que passarão a ver a si mesmas representadas nos brinquedos”, afirma Mylene.

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