Após apoiar dia do homem de saia, cartunista Laerte fará palestra na USP

Para artista que se veste como mulher, reação dos alunos é ‘revolucionária’.
‘A universidade é um lugar de debate das questões do nosso mundo’, diz.

Laerte Coutinho, cartunista que está na lista de inspirações de vários estudantes homens que decidiram vestir saia na Universidade de São Paulo (USP), afirma que se envaidece quando descobre que serve de exemplo para jovens interessados em quebrar padrões e que apoia o movimento de alunos e alunas da instituição contra o preconceito de gênero. Por se interessar em estar perto de ações desse tipo, Laerte aceitou o convite de professoras do curso de têxtil e moda para visitar a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), no campus da Zona Leste da instituição, e dar uma palestra no dia 6 de junho.

Em entrevista ao G1, Laerte afirmou que gosta de se envolver nos grupos que demonstram uma “reação ativa” ao preconceito porque considera positivo o debate público sobre questões que historicamente são vividas de maneira individual. Em seu caso específico, Laerte se considera uma travesti, mas diz não se importar se outras pessoas a tratem como homem ou como mulher, mas na entrevista referia-se a si próprio como “ela”.

“Passei 60 anos sendo tratado como homem, não é agora que vou me incomodar. Gosto de me sentir mulher, de me sentir feminina, mas nem é isso tudo, também contesto o que seja mulher, feminino. Essas coisas todas são conceitos que estão em discussão.”

Para Laerte, o fato de hoje em dia esse debate ser abordado publicamente é “ótimo”, porque o drama das pessoas que desafiam as identidades de gênero impostas são uma aflição que não precisa ser vivida como experiência isolada. “Quando essas experiências todas se tocam entre si, as coisas se colocam de forma mais produtiva, essa reflexão pode ajudar todo mundo a lidar com a questão de gênero, de orientação sexual, a parar de se comportar como se tudo fosse uma regra imutável”, disse.

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Na quinta-feira (16), alunos da USP combinaram
de vestir roupas que fogem do padrão para
incentivar a reflexão sobre o preconceito

No caso do “saiaço” promovido por centenas de estudantes da USP na última quinta-feira (16), Laerte considera que a “rebeldia” dos e das estudantes em relação aos padrões é “saudável e até revolucionária”, porque questiona “essa ordem que nos é impingida desde antes que a gente nasça”.

Laerte elogiou a resposta dos e das estudantes da USP, mesmo os que não sentem insatisfação quanto à sua identidade de gênero, ao se depararem com a ofensa que um estudante do curso de têxtil e moda recebeu de colegas nas redes sociais por ter ido às aulas vestindo uma saia xadrez no fim de abril.

Universidade e direitos civis
A discussão sobre a identidade de gênero, a orientação sexual e a diversidade deve ser abordada tanto dentro das instituições de ensino quanto em outros espaços da sociedade, segundo Laerte.

“Estamos falando de uma questão que diz respeito à vida, ao modo como as pessoas se relacionam. É um tema que precisa e pode ser discutido onde se apresentar, em qualquer lugar, na universidade, no governo, nos clubes, nas escolas de samba, em qualquer lugar que essa questão se apresentar. Ela diz respeito a direitos civis”, disse.

Fora isso, afirma, “a universidade é por natureza também um lugar de debate e discussão das questões do nosso mundo, da nossa cultura, da nossa sociedade, e essa sem dúvida é uma delas”.

Desde que assumiu publicamente o ‘crossdressing’ (quando um homem se veste como mulher, e vice-versa), o nome de Laerte sempre é lembrado por estudantes que decidem seguir o mesmo caminho. Mesmo homens heterossexuais e que nunca pensaram em se vestir de modo considerado feminino citam a cartunista como inspiração. Foi o caso de um estudante da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) que, em 2012, vestiu uma saia escocesa para ir às aulas e experimentar o preconceito.

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Na USP Leste, o estudante Vítor Pereira (de saia amarela) desfila com os colegas (Foto: Sérgio Castro/Estadão

“Eu me sinto envaidecida”, afirma Laerte sobre ter se tornado modelo para outras pessoas. “O que estão experimentando também é o prazer e o gozo da quebra dos códigos, de violar esse cânone, sair dessa gaiola, mesmo que estejam satisfeitos com a identidade de gênero. A gente vive sob regras muito rígidas que não se limitam a dizer o que a gente tem que vestir, que tipo de cor tem que gostar, mas que tipo de corpo a gente tem que ter.”

 

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Fonte: G1

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