Artista faz metáfora de dor ao retratar jovens negras na Flup

Após percorrer o mundo, Alexis Peskine faz no MAR primeira exposição no Brasil

Por Jan Niklas, Do O Globo

O artista Alexis Peskine - homem negro, usando óculos e camista colorida- agachado no chão
O artista Alexis Peskine é filho de baiana e judeu franco-russo e está expondo no MAR para a FLUP. (Foto: Ana Branco / Agência O Globo)

Além dos debates sobre negritude, apresentações musicais e batalhas poéticas do slam, outra atração vem roubando a cena na Festa Literária das Periferias (Flup) na Galeria do Museu de Arte do Rio (MAR) que vai até domingo. O artista plástico Alexis Peskine (40) apresenta pela primeira vez no Brasil seus característicos quadros de rostos negros feitos com milhares de pregos, que já percorreram galerias na Europa, Estados Unidos e África.

— O prego tem muito sentido em relação a experiência negra, ao sofrimento, à força— diz Peskine — No Congo existem as figuras chamadas “nkisi nkondi”, que são estátuas de madeira com muitos pregos. Elas são como figas , e é isso que a comunidade negra precisa: proteção, força e poder.

Peskine, que é filho de uma baiana com um judeu franco-russo, cresceu na França e estudou nos Estados Unidos. Mesmo com todas esse multiculturalismo, ele se considera meio “brasileiro”, como diz num português que mistura sotaques do francês e do inglês, salpicado de acentos baianos (“massa véi”, solta vez ou outra).

O artista Alexis Peskine - homem negro, usando óculos e camista colorida- em pé ao lado de uma pintura
Peskine expõe pela primeira vez no Brasil Foto: Ana Branco / Agência O Globo

Para a Flup, ele retratou a pedido do organizador Júlio Ludemir em grandes pranchas de madeira, de aproximadamente 2mx2m, cinco jovens personalidades que tem uma forte relação com a festa literária. E todas com um detalhe: um pano branco na cabeça em homenagem a escritora Carolina Maria de Jesus.

Residência com jovens

— Usei também ouro sobre os pregos, como metáfora de que nós negros somos alquimistas — diz o artista— Eles deram pra gente as piores parte do porco e nós fizemos a feijoada.

Estão retratadas na Galeria do MAR a escritora Ana Paula Lisboa, que é uma das palestrantes do evento; Alessandra Makeda, tradutora de libras dos debates; Lua Bartholomeu, poeta que fez sucesso representando a Angola no Rio Poetry Slam do ano passado; e as gêmeas Betina e Bianca, jovens que cresceram frequentando todas as edições da Flup desde 2012.

Formado em artes na Howard University em Washington, universidade voltada para a formação de negros de onde saíram artistas como o rapper P. Diddy e o ator de “Pantera Negra” Chadwick Boseman, Peskine sempre tematiza a cultura negra em seus trabalhos.

Os quadros foram feitos em uma residência artística com jovens da periferia do Rio, vindos de bairros como o Complexo do Alemão.

— Eles são o “terror” — diz rindo — Me trouxeram várias referências, fizeram praticamente tudo nos quadros. E como a arte é historicamente elitista, sempre tento fazer esse movimento. Nós negros fomos empurrados para a periferia, mas somos o centro.

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