Na segunda-feira pela manhã (29), o plenário da Câmara de Vereadores recebeu especialistas, pesquisadoras e ativistas, além de familiares de mulheres vitimadas por problemas decorrentes de complicações durante ou após o parto, para a realização de um debate público sobre o tema da “Mortalidade Materna e Violência Obstétrica”.
Por Mônica Francisco, do Jornal do Brasil
O debate, conduzido pela vereadora Marielle Franco(PSOL), presidente da Comissão da Mulher, trouxe ao foco do debate uma série de estatísticas vergonhosas sobre a mortalidade materna no município do Rio de Janeiro.
O vídeo apresentado como provocador do debate, e que antecedeu as exposições, dá conta de que aumentaram de 62 para 72 os casos de mortalidade materna para cada 100 mil nascidos vivos. Que o Rio de Janeiro é a 6ª pior capital para uma mulher engravidar, já que 36% das mortes do Brasil acontecem na cidade.
A Zona Oeste apresenta taxas elevadas e se coloca no topo do ranking dos casos de mortalidade materna. O que chama atenção na exposição feita pela superintendente de Maternidades do SUS e Hospitais Pediátricos, Carla Brasil, é a configuração da população mais afetada quando o recorte é feito por cor, nível de escolaridade (majoritariamente as que não completaram os ensinos fundamental e médio) e raça.
As mulheres jovens, entre 15 e 25 anos, são as que mais morrem, e o mais doloroso é que muitas destas mortes poderiam ser evitadas. Os números são assustadores e dão conta de uma violência silenciosa e altamente naturalizada, que atravessa a vida de famílias pobres e que são usuárias do sistema público de saúde em sua grande maioria.
Os encaminhamentos sugeridos pela vereadora Marielle Franco foram os de criação de um grupo de trabalho para discutir e formular propostas para.atuarem na diminuição destas mortes, enfatizando a sensibilização dos funcionários e visitas às maternidades que aparecem como as que vem apresentando maior índice de mortalidades.
Em uma cidade onde o discurso é de valorização da mãe carioca e que a prioridade é o cuidado com as pessoas, é urgente a adoção de medidas de Impacto, como melhorar a comunicação entre os serviços desde a atenção básica até o último estágio, para que seja de fato integral o atendimento à mulher.
É fundamental dar cada vez mais visibilidade a essa aberração na sociedade, para que deixem de ser naturalizados e banalizadas as mortes de mulheres jovens, pobres e negras.
* Colunista, Consultora na ONG Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel