Assim em Ferguson como aqui

Não sei, mas me parece que por aqui em nossas paragens, o que importa é que esteja ruim, ou como dizem por aí, “quanto pior, melhor”.

Por: Mônica Francisco Do: Jb

Nenhuma boa notícia é dada com entusiasmo. Saímos do mapa da fome no mundo e nem sequer um “viva” da grande imprensa. Umas poucas e pequenas notas aqui e acolá para constar, porque afinal de contas é notícia.

Assistindo ao programa Conexões Urbanas, tive a certeza de que é necessário o enfrentamento das questões relacionadas ao combate às drogas e a forma com que ele é feito em nosso país.

Jovens, sejam eles policiais ou empregados do comércio ilegal de drogas, ou moradores de áreas periféricas das grandes cidades, estão sendo dizimados, mutilados e em escala assustadora e ascendente.

Não por acaso, suas origens e cor da pele caminham na mesma direção. Questionamos Ferguson e a decisão de absolver o policial branco que matou brutalmente um adolescente negro. Mas aqui no nosso quintal, temos de lutar incessantemente para que uma lei da época da ditadura seja revogada.

Sua aplicação consentida pelo racismo é um de nossos grandes problemas. Segundo estudos que deram subsídios para a criação do Projeto de lei que acaba com os autos de resistência, 60% dos autos são execuções.

Há cerca de um mês, um policial afirmava que a morte de um suspeito havia sido execução mesmo e não troca de tiros. O vídeo circulou e nenhuma ação foi feita em relação a isso.

O projeto de lei, que é  de autoria do deputado do PT de São Paulo, Paulo Teixeira, prevê o fim dessa prática, que na verdade funciona como pena de morte.

Aqui, bem como em Ferguson, de maioria negra, onde o poder de decisão está nas mãos de uma maioria masculina e branca, todos os esforços são necessários para diminuir nossa tragédia silenciada e cotidiana.

Mais se mata, mais se morre e o discurso é mais polícia, mais armas, mais controle de áreas pobres, sem se atacar de frente areal motivação desse estado de coisas.

O africanólogo Alberto Costa e Silva mencionou em sua apresentação sobre o Cais do Valongo, que recebeu mais de 500 mil negros de países africanos, traficados e submetidos à escravização. Disse que o depósito e a comercialização dos pretos no Cais do Valongo se deu porque o príncipe regente sentia grande mal-estar ao ver gente sendo vendida na Rua primeiro de Março como animais.

Ou seja, o problema da elites não é a existência do mal em si, mas de que ele de alguma forma esteja visível aos seus olhos. Se longe de si e dos que os cercam, tudo bem. Não o vendo, logo não existe.

“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”

*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)

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