Ataques racistas a atletas podem provocar mudanças nas redes sociais

Twitter vai se reunir com o Manchester United para discutir o assunto

Por Daniele Bellini, do O Estado de S.Paulo

Imagem Geledés

Os recentes insultos racistas a jogadores de futebol na Inglaterra podem provocar mudanças no acesso e utilização das redes sociais. O Twitter, por exemplo, já anunciou que vai se reunir com o Manchester United para discutir o assunto.

“Sempre mantivemos um diálogo aberto e saudável com nossos parceiros neste âmbito, mas sabemos que precisamos fazer mais para proteger nossos usuários. O comportamento racista não tem lugar na nossa plataforma e nós o condenamos veementemente. Para isso, esperamos trabalhar mais próximos a nossos parceiros para desenvolver soluções em conjunto para essa questão”, disse o Twitter em um comunicado à imprensa.

Em menos de uma semana, a Inglaterra teve três casos de ataques racistas nas redes sociais envolvendo jogadores de clubes importantes no país, o Manchester United, o Chelsea e o Reading – que disputa a Segunda Divisão. O mais recente ocorreu na segunda-feira, durante a partida entre Wolverhampton Wanderers e Manchester United, válida pela segunda rodada do Campeonato Inglês. O jogo estava empatado por 1 a 1 quando Paul Pogba perdeu um pênalti que poderia ter dado a vitória ao Manchester e foi alvo de ataques.

No domingo, em partida pela Championship, o atacante Yakou Meite recebeu agressões virtuais após perder um pênalti na vitória do seu time, o Reading, por 3 a 0 sobre o Cardiff. Na decisão da Supercopa da Uefa, na semana passada, o atacante do Chelsea, Tammy Abraham, também foi alvo de insultos após perder a última cobrança de pênalti que deu o título ao Liverpool.

O Twitter, uma das principais redes utilizadas para os insultos raciais contra os jogadores, chegou a apagar comentários e até excluir contas envolvidas nos ataques. “Estamos cientes e compartilhamos das preocupações em torno dos casos recentes de racismo na internet contra jogadores de futebol no Reino Unido. Estamos monitorando proativamente conversas e continuaremos agindo com firmeza contra qualquer conta que viole nossas Regras”, informou a plataforma.

No Brasil, no último Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol divulgado em 2018 pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, 69 casos foram registrados no País, sendo 61 relacionados ao futebol e 43 de racismo na modalidade. Ao todo, 11 casos ocorreram na internet. Apenas dois Boletins de Ocorrência, no entanto, foram abertos.

Na Inglaterra, os clubes usaram as redes sociais para repudiarem qualquer tipo de discriminação. O Reading fez um post dizendo que não daria oxigênio aos comentários racistas enviados a Yakou Meite, e inseriu uma foto do jogador comemorando um gol.

O Manchester United publicou em sua conta do Twitter mensagem dizendo que não tolera qualquer forma de racismo ou discriminação e utilizou a hashtag #allredallequal para enfatizar seu compromisso com a igualdade, diversidade e inclusão. A campanha foi lançada na temporada 2016/17 e inclui temas como o racismo, o futebol feminino, a religião, a homossexualidade, entre outros.

O técnico e ídolo do Chelsea, Frank Lampard, demonstrou seu repudio ao atos racistas. O ex-jogador disse em vídeo publicado no site do clube estar irritado e enojado com o terrível abuso online sofrido pelo seu comandado, reiterando a posição do clube em relação a qualquer forma de discriminação. “Eu estou enojado com os chamados torcedores do Chelsea”, disse o treinador.

Na terça-feira, o treinador da seleção feminina da Inglaterra, Phill Neville, incentivou os profissionais envolvidos com o futebol a saírem das redes sociais por pelo menos seis meses. “Vamos ver o efeito que isso tem nestas empresas de redes sociais, se elas realmente farão algo a esse respeito”, disse Neville.

+ sobre o tema

Homem disse que atendente de cinema ‘deveria estar na África, cuidando de orangotangos’

Polícia do DF investiga denúncia de racismo contra atendente...

“Fashion Police” sobre Oscar 2015 teve caso de racismo? Vem entender essa história!

Giuliana Rancic comentou sobre dreads de jovem no programa...

Crianças enforcam menina com corda na escola por ela ser negra

Família processará escola depois que a filha passou por...

Instituto de Cardiologia (RS) é condenado a indenizar auxiliar operacional vítima de racismo

A Fundação Universitária de Cardiologia (FUC), de Porto Alegre...

para lembrar

É impossível ser negro neste país

Por: Mônica Francisco Não é à toa que um grande...

Contra a fome, sem barganha

Não é de hoje que Lula põe o enfrentamento...

A astuta reprodução do discurso patriarcal nos meios feministas

É assustador como o feminismo midiático se conforma com...
spot_imgspot_img

‘Redução de homicídios no Brasil não elimina racismo estrutural’, afirma coordenador de Fórum de Segurança

Entre 2013 e 2023, o Brasil teve uma queda de 20,3% no número de homicídios, de acordo com o Atlas da Violência, produzido pelo Fórum...

‘Não aguentava mais a escola’, diz mãe de aluna internada após racismo

A mãe da aluna de 15 anos que foi encontrada desacordada no Colégio Mackenzie (SP), contou ao UOL que a filha segue internada em um hospital psiquiátrico...

Risco de negro ser vítima de homicídio é 2,7 vezes maior no Brasil

Ser uma pessoa negra no Brasil faz você enfrentar um risco 2,7 vezes maior de ser vítima de homicídio do que uma pessoa não negra. A constatação...
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.