Balotelli, rei de Ifé -Por Cidinha da Silva

Por Cidinha da Silva
Mário Balotelli foi o primeiro jogador negro da História italiana a marcar gol vestindo a camisa da seleção. Alguns cronistas esportivos europeus o têm considerado um dos 10 melhores futebolistas do mundo em atividade. É menino, ainda, tem 22 anos, mas o corpanzil atlético, o rosto marcado por expressão forte, desafiadora e dolorida a um só tempo, o envelhecem. Mesmo quando sorri aparentemente descontraído, o olhar triste e distante não o abandona.
Para onde olhará Balotelli?
Para dentro, imagino, onde vê a história dolorosa de abandono familiar. Filho de pais conhecidos, migrantes africanos originários de Gana, nascido Barwuah, em Palermo, tornou-se Mário Balotelli ao ser adotado por uma família italiana que já tinha três filhos. Dois dos irmãos mais velhos, percebendo sua destreza com a bola, encaminharam-no para o mundo profissional do futebol.
Dentro, ainda, todas as sensações de ser descendente de africanos num dos países mais racistas da Europa, acolhido por uma família branca, que parece tê-lo amado, oferecendo-lhe conforto material que os pais negros não poderiam lhe proporcionar, talvez nem pudessem alimentá-lo. Balotelli parece entendê-los. O jogador investe dinheiro no bem estar de comunidades negras sem recursos econômicos na Itália e em África.
Quem seria Barwuah se os pais o tivessem criado? Como seria sua vida? Como seria enfrentar o racismo italiano no seio de uma família negro-africana? Ele teria se transformado naquilo que é Balotelli hoje? Barwuah foi abandonado por desamor, descaso ou por desespero? Por medo dos pais de que o filho morresse de fome e frio, provavelmente, como tantos outros bebês migrantes morrem todos os dias e noites. São as perguntas que leio em seu olhar amargurado.
Do lado de fora, Balotelli vê o requinte cruel da discriminação racial perpetrada (impunemente) pelos torcedores do Internazionale que exibem uma banana inflável, bem madura para não haver dúvidas de que se trata de uma banana, de cerca de 60 centímetros na arquibancada, durante disputa com o Milan, seu time. Nada diferente do que ele tem visto ao longo da vida.
Por fora Balotelli não se abala, olha duro, impávido. Não chora como chorou na derrota italiana na Eurocopa. Naquela cena ele sangra, mas não chora. Seus pais são de Gana, mas ele é Baloferro, soberano de Ifé.

+ sobre o tema

Que escriba sou eu?

Tenho uma amiga que afirma que a gente só prova...

Em carta a Dilma, MPL lembra de índios e pede diálogo com movimentos sociais

Convidado para reunião com a presidenta, Passe Livre pediu...

Vox/Band/iG: Dilma cai de 56% para 54%

Candidata petista varia para baixo pela primeira vez dentro...

Movimento negro cobra auxílio emergencial de R$ 600 e vacina para todos pelo SUS

Nesta quinta feira (18), a Coalizão Negra por Direitos,...

para lembrar

Juíza acende debate sobre latinos nos EUA

Fonte: Uol Por SÉRGIO DÁVILA Falas de Sonia...

O ENEM, os direitos humanos, a liberdade de expressão e a lógica da dominação

A decisão monocrática da presidente do Supremo Tribunal Federal...

DCE da UnB publica nota em repúdio à ação do DEM

Fonte: Consultor Jurídico - Por Filipe Coutinho O...

Ela me largou

Dia de feira. Feita a pesquisa simbólica de preços, compraria nas bancas costumeiras. Escolhi as raríssimas que tinham mulheres negras trabalhando, depois as de...

Frugalidade da crônica para quem?

Xico, velho mestre, nesse périplo semanal como cronista, entre prazos apertados de entrega, temas diversos que dificultam a escolha, e dezenas de outras demandas,...

O PNLD Literário e a censura

Recentemente fomos “surpreendidas” pela censura feita por operadoras da educação no interior do Rio Grande do Sul e em Curitiba a um livro de...
-+=