O mundo mudou desde quando o FSM (Fórum Social Mundial) surgiu, em 2001, como contraponto à globalização econômica ditada principalmente pelos Estados Unidos, Europa e Japão. Mais de uma década atrás, o G-8 (grupo das oito nações mais ricas do mundo) reinava mais absoluto e o processo de expansão dos mercados estava quase que completamente nas mãos de instituições multilaterais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Na visão de alguns dos ativistas, pesquisadores e intelectuais que têm participado e acompanhado o processo do FSM, a mudança de contexto coloca desafios aos próprios movimentos e organizações sociais. “Movimentos sociais podem também se transformar, por exemplo, em partido político. Não precisam ser o mesmo para sempre. Esse tipo de ideia parece não fazer parte do nosso quadro de pensamento”, sublinha a indiana Meena Menon, associada à organização Focus on the Global South.
Como uma espécie de exemplo, a indiana cita o caso do sindicato de trabalhadoras e trabalhadores da indústria têxtil de Mumbai, na Índia, que, diante do desmonte das fábricas em pequenas unidades de produção “caseiras”,acabou se “convertendo” em movimento social, incorporando inclusive novas agendas como a do direito à moradia.
– Por que manter sempre uma postura defensiva? Toda vez que o Estado faz algo que consideramos ‘errado’, nós gritamos, gritamos e gritamos. Não há mal nenhum em ter sonhos e defendê-los. Mas chamo a atenção para que pensemos, sempre que possível, no que faríamos efetivamente se estivéssemos no poder – completa Meena.
No contexto específico do chamado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), há análises que apontam que a ampliação das “classes médias”, movidas pelo consumo, também tem resultado em um maior distanciamento entre as mesmas e os movimentos sociais.
“Emergentes”
À frente do Fórum Mundial das Alternativas – rede internacional de centros de pesquisa e intelectuais militantes -, no âmbito do Fórum Social Mundial, o economista egípcio Samir Amin assinala que a luta de classes com vistas à “desconstrução do sistema imperial” precisa ser entendida pelos movimentos sociais de forma complexa, levando-se em conta o papel do Estado.
No cenário corrente marcado pela hegemonia neoliberal que chamou de “fascismo financeiro”, ele faz uma diferenciação entre aquilo que chama de “mercados emergentes”(Brasil e Índia) e de “sociedade emergente” (China). Nos “mercados emergentes”,opina o egípcio, predomina a expansão dos mercados.
Já na “sociedade emergente”da China que importa tecnologias e exporta manufaturas, a interação com os mercados se ajusta a um projeto de soberania. Tal condição se sustenta, de acordo com o economista, em dois fatores: a sustentação do regime de terras públicas, com participação dos comitês das vilas, e a manutenção de uma atuação diferenciada no mercado internacional de ações e no trato com a globalização financeira haja vista a questão do valor da moeda chinesa (yuan).
Fonte: Correio do Brasil