Bandeirinha está sendo vítima de abuso

Uma das bases para manter intactos os preconceitos mais primitivos é eles ficarem introjetados no mais profundo calabouço da alma. Quanto menos percebemos nossas intolerâncias, com mais força elas se manifestam. Que o diga a bandeirinha Fernanda Colombo, vítima de um massacre de grosseria que só o machismo mais tosco (e inconsciente) é capaz de promover.

A moça já se tornou uma celebridade, menos por sua beleza do que pela face deformada do jornalismo esportivo. Que o ambiente do futebol é sexista, todos já sabíamos. O que não dava para imaginar é que profissionais de comunicação eram capazes de agir como um bando de adolescentes se masturbando no banheiro da escola.

É simplesmente obscena a forma como a jovem auxiliar está sendo tratada pela imprensa dita especializada. Não bastasse a já conhecida falta de classe e educação de dirigentes, jogadores e técnicos, estamos vendo do que são capazes repórteres e comentaristas que cobrem o mundo da bola.

Sob o pretexto de estarem discutindo a capacidade técnica da moça, os marmanjos não estão perdendo uma oportunidade sequer para destilar ironias de gosto duvidoso e uma indubitável misoginia. O que estão fazendo é abuso, nada mais. Desconheço o caso de jogador ou juiz exposto ao ridículo por ser bonito, boa pinta ou gostoso. Erros de arbitragem, muitos gravíssimos, acontecem toda semana, sem que tenhamos de ver a bunda do árbitro em primeiro plano.

Caso Fernanda entre nesse jogo e aproveite para alavancar sua carreira de modelo ou de fato posar nua em alguma revista, eu até posso lamentar, mas é problema dela. Não muda o vexame a que estamos assistindo. Respeito é bom e todo mundo gosta — até bandeirinha ruim.

Fonte: Provocador

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