‘Brasil é patriarcal, patrimonialista, racista e machista’, diz Ideli

Para a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, posturas conservadoras da sociedade também contribuem para que o País ainda enfrente dificuldades em punir a tortura

Há quase dois meses na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a ministra Ideli Salvatti tem articulado no Congresso questões importantes que tramitavam há anos. Entre as vitórias comemoradas pelo governo estão a criação do Conselho Nacional de Direitos Humanos, a aprovação da PEC que desapropria terras nas quais são encontradas situações de trabalho análogas à escravidão e, mais recentemente, a aprovação da chamada Lei Menino Bernardo, antes conhecida como lei da palmada, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

Para Ideli, ainda há uma dificuldade grande no Brasil de punir casos de tortura. Em entrevista ao iG, ela atribui essa dificuldade à herança de costumes autoritários da Ditadura Militar e também à existência de valores conservadores arraigados na sociedade. “A tortura está diretamente relacionada com poder e autoritarismo. Tem resquício, não só do período ditatorial, mas também tem a ver com uma sociedade que, infelizmente, no Brasil, é patriarcal, patrimonialista, racista e machista”, diz a ministra.

Ideli afirma que até o próximo mês a presidente Dilma Rousseff fará a indicação dos integrantes do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, que terá a atribuição de verificar, sem aviso prévio, a existência de tortura, em presídios ou qualquer outro tipo de instituição do Estado.

Articulação política

Ideli comandou por mais de dois anos a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República, núcleo de articulação política com Planalto com o Congresso Nacional. A ministra avalia que a ideia de que Dilma não gosta de fazer política é uma “lenda urbana” e vem mais do fato da presidente não ter a experiência como parlamentar.

“A presidente Dilma não vivenciou a experiência do Parlamento. Ela sempre foi do Executivo. O parlamento tem um ritual, tem o tempo, tem a cena”, explicou. “Fui líder do presidente Lula durante quase dois anos e nunca tive uma reunião com o presidente Lula”, compara Ideli, ao dizer que os líderes do Congresso se encontram com a presidente quase que semanalmente.

Ideli também aproveitou para falar do líder do PMDB na Câmara, o deputado Eduardo Cunha (RJ), um dos mais controversos aliados do governo no Congresso Nacional. Cunha liderou todas as principais revoltas da base contra a presidente Dilma em seus três anos e meio de governo. “É melhor do lado do que contra”, disse Ideli falar sobre Cunha. “É um grande articulador, é uma pessoa que tem realmente liderança”, reconhece ela.

 

Fonte: Último Segundo

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