O cacique Izaias Benitter, da aldeia Taturi, localizada no município de Guaíra, no oeste do Paraná, denunciou a ameaça de policiais contra dois indígenas. O caso teria acontecido na quarta-feira (17), quando os dois seguiam em uma motocicleta pelos arredores da aldeia. De acordo com o cacique, os indígenas estavam sem os documentos e tiveram as roupas rasgadas e a moto apreendida. Um dos policias ainda teria dito: “Posso matar vocês aqui e ninguém vai saber”.
O caso é denunciado em meio a graves conflitos que assolam a região desde o fim do ano passado, quando os indígenas começaram um processo de retomada de território.
Eles estão localizados em uma área chamada Guasu Guavirá, que compreende 17 aldeias. Todas elas são formadas por indígenas remanescentes da região que hoje dá espaço para o lago da Itaipu e de onde foram expulsos por meio de remoções forçadas no período da construção da hidrelétrica binacional.
Alguns processos de demarcação já haviam começado, mas foram barrados durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), voltando à estaca zero e acirrando os conflitos com milícias rurais.
Em dezembro do ano passado, um grupo de não indígenas invadiu a retomada indígena e fez ameaças com armas, além de destruir parte das moradias. O mesmo ocorreu em janeiro. O último conflito grave foi no dia 10, quando três indígenas foram atingidos por disparos de arma de fogo e, depois, a ameaça dos policiais narrada por Izaias.
“Os indígenas estavam de moto próximo da aldeia. É comum andarem sem a documentação quando estão aqui por perto. Os policiais abordaram os indígenas com uma viatura, rasgaram as roupas deles e ainda ameaçaram. Depois apreenderam a moto”, afirmou o cacique, ao Brasil de Fato.
No documento de apreensão é possível ler o nome de soldado Mezzano, que o cacique aponta como um dos responsáveis.
Além disso, o cacique conta que os policias disseminaram pânico, dizendo que um grupo de policiais do Rio de Janeiro iria até a aldeia para prender todos os indígenas envolvidos na retomada, incluindo os caciques de cada comunidade.
No dia seguinte, dia 18, o cacique foi até a sede da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para denunciar o caso, mas disse que não foi recebido pela autarquia.
“Quando cheguei, um funcionário disse que o responsável não poderia me atender porque estava em reunião. Mas ele não estava. Percebi que estava mentindo. Logo chegou um policial no local. Tentei falar, enquanto cacique, o que estava acontecendo, mas não me ouviram”, contou à reportagem.
A situação foi vista com preocupação pelo cacique, que luta pela proteção da comunidade em um período de escalada de violência.
A reportagem procurou a Funai e questionou sobre a recusa do atendimento ao cacique. O órgão não respondeu à pergunta, mas, em nota, disse que está acompanhando o caso.
“A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) acompanha a situação no local por meio da unidade descentralizada do órgão na região. A área em questão incide nos limites da Terra Indígena Tekoha Guasú Guavirá e se trata de litígio territorial cujo processo demarcatório se encontra em curso”, afirmou, em trecho.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná (SSP/PR) não respondeu sobre a ação dos policias contra os indígenas da aldeia Taturi.
Para garantir a proteção dos povos, a força nacional foi deslocada para a região e uma reunião no fim de semana passada também foi realizada com as comunidades, junto a órgãos de proteção indígena e do Ministério Público Federal.
A reunião acompanha decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin que, no dia 15, pediu a intervenção da Comissão Nacional de Soluções Fundiárias do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no território indígena e a anulação de todos os julgamentos que interromperam o processo de demarcação dessas comunidades.