Cada vez mais estupros, por quê?

Foi noticiado na última semana que o número de estupros no Brasil foi maior do que o de homicídios dolosos. Cerca de 50.617 mil pessoas foram estupradas em 2012, segundo o 7° Anuário Brasileiro de Segurança Pública. De acordo com a nova legislação, estupro não significa apenas conjunção carnal, mas também inclui atos libidinosos praticados contra qualquer pessoa.

Texto de Pamela Sobrinho.

De acordo com o anuário, que será lançado nesta terça (5), em São Paulo, o país registrou 50.617 casos de estupro em 2012, o que equivale a 26,1 estupros por grupo de 100 mil habitantes – o aumento é de 18,17% em relação a 2011, quando a taxa foi de 22,1 por grupo de 100 mil. O número de homicídios dolosos registrados em 2012 foi de 47.136.

Segundo a assessoria do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o estudo foi realizado com base nos critérios da mais recente legislação sobre o assunto, de 2009, que considera estupro todos os casos de “atos libidionosos”, o que inclui conjunção carnal ou qualquer outro tipo de abuso. Antes de 2009, o Código Penal considerava estupro somente “conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça”. Referência: Número de estupros supera o de homicídios dolosos, diz estudo.

Então, me pergunto: até quando teremos que andar com medo nas ruas? Ou até quando teremos que ter medo dentro de nossas próprias casas? Pois muitas vezes a violência sexual é praticada por parentes ou pessoas conhecidas. Até quando estaremos sujeitos a tais atos repudiantes em nossa sociedade?

 

No caso das mulheres há o agravante da cultura do estupro, que sempre é utilizada para culpas as vítimas. Parece que os números crescem à medida que a sociedade se torna mais retrógrada. Culpar a vitima por provocar o estupro é mais fácil do que admitir que nossa sociedade é conivente com a cultura do estupro.

É comum até mesmo vermos o comportamento machista de muitas mulheres corroborando essas justificativas ao condenarmos mulheres que sofreram violência ou que foram expostas na internet, como recente caso de Fran. Também corroboramos e damos mais munição para a cultura do estupro quando chamamos mulheres por nomes pejorativos ou ao pensarmos: bem feito!

Por que é tão comum vermos essas atitudes? Por que desejar o mal a outra mulher? Porque a sociedade patriarcal nos criou para aceitar com facilidade suas imposições, nos criou para não compreender que o “fiu-fiu” na rua também é um atentado libidinoso, que “chegadas” violentas nas festas não são atentados libidinosos, nos criou para culpar a mulher quando a mesma é violentada. É tudo fruto da sociedade, da mídia, da religião e o que mais me deixa indignada, da politica. Leis que deveriam favorecer a mulher acabam prejudicando as mesmas, como o Estatuto do Nascituro. É por essas e outras que minha indignação continua a crescer.

Quando o assunto é estupro, os homens também são prejudicados por essa sociedade machista. Para não terem sua heterossexualidade ou a pose de machão contestada, muitas vezes preferem não denunciar seus agressores, sejam homens ou mulheres. Porque na concepção machista, se um garoto ou homem rejeita as investidas agressivas de uma mulher ele é gay, e isso é errado aos olhos da sociedade. Se sofre abuso sexual, é gay. A vítima é sempre a errada, a que provocou, aquela que será questionada.

A luta contra o estupro deve continuar. Uma luta que acolha as vítimas e que lute para que suas denuncias sejam respeitadas pela justiça. São mulheres e homens, vítimas de um crime bárbaro, vítimas do sistema, vítimas de nossa sociedade. Devemos lembrar sempre que não são os culpados pela violência que sofreram.

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Pamela Sobrinho é economista no Sistema S, editora na revista Betim Cultural, blogueira, mulher, feminista, sem denominações religiosas, mas amante do respeito e da igualdade. Escreve no blog: O que há por trás da Economia. Twitter: @pamsobrinho.

 

Fonte: Blogueiras Feministas

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