Cadê Nossa Boneca: Campanha propõe maior produção de bonecas negras

O que era para ser “apenas” uma arrecadação de brinquedos para um trabalho social se tornou algo maior e capaz de interferir no modo como as crianças veem a si mesma. A ONG Avante é responsável pela campanha ‘Cadê Nossa Boneca?’, trazendo ao centro de discussões sobre o racismo uma realidade: a produção de bonecas negras é discrepante em relação às bonecas brancas, tanto na quantidade quanto no preço, e isso se reflete na doação de bonecas com tal característica.

Por  Estela Marques Do Midia Bahia

A ideia da campanha surgiu em 2013, depois de uma coleta de brinquedos para uma ação do grupo Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta, coordenada por Hamilton Borges, em que foi percebido que nenhuma das bonecas representavam a população negra atendida pelo grupo.

As amigas Ana Marcílio, Mylene Alves e Raquel Rocha perceberam, então, a necessidade de estimular a doação de bonecas negras e até montar um acervo, ainda que com recursos próprios. “Nessa de comprar bonecas pretas, a gente teve mais dificuldade ainda, porque não conseguiu fazer o acervo de bonecas. São caras, difíceis de achar, então a gente não conseguiu construir o acervo para fazer a intervenção que gostaríamos. E aí resolvemos fazer a campanha”, contou Ana, em entrevista nesta terça-feira (26).

Essa dificuldade de encontrar as bonecas com uma diversidade maior de características é justificada pela indústria como um desinteresse do grande comércio em adquiri-las, segundo Ana. Eles dizem que até produzem bonecas com características além da pele clara, cabelos louros e olhos azuis, mas o grande comércio não adquire por falta de mercado. “Mas o público diz que compra”, completou a ativista, que coordena uma campanha que se propõe a desatar esse nó. “Esse nó é fruto de uma questão de racismo.

A gente está falando de construção de imagem, de identidade. A gente está falando de luta histórica para série de possibilidades de inserção dos negros, do indígena e de outros padrões da sociedade. Como brinquedo é uma das coisas que apoiam na construção simbólica, não posso dizer que isso não tem ver”, avalia Ana.

Segundo contou, uma das estratégias da campanha para mudar esse cenário é propor debates com a sociedade civil para, quem sabe, incentivar o mercado, a produção e o consumo das bonecas, além de uma construção simbólica na infância que seja menos racista. Outras informações sobre a campanha ‘Cadê Nossa Boneca?’ podem ser adquiridas via página no Facebook (clique aqui).

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...