É quase certo que conceituar fragmentariamente o capital só reforça o capitalismo que muitas de nós combatemos, porque reforça hierarquias, competição exacerbada, o consumismo, o desemprego/desocupação, a busca de lucro progressivo e incessante – mesmo que com prejuízos ecológico -, a privatização de bens públicos, em síntese , a valorização do ter e da aparência, à luz de conceitos e ideologias euro-hegemônicos . Em todo caso, pode caber um certo glossário, para estimular reflexões sobre sinergias negativas, ligadas às questões de gênero, raça e condição socioeconômica. Tanto no plano individual quanto no coletivo, destaco os vínculos:
por Nilma Bentes 1 – enviado para o Portal Geledés
a) Capital afetivo: Aqui, trata-se da questão de orientação sexual, então, a heterossexualidade/heteroafetividade é absolutamente hegemônica e é, portanto, privilegiada; fica a homo e transsexualidade com ́capital afetivo ́ baixo.
g) Capital impunibilista: A acumulação desse tipo de capital de impunidade privilegia famílias brancas, de poderio econômico-financeiro e de status. A severa ́força da Lei ́ é ativada para os que estão na pobreza, sobretudo para negros/as, indígenas e às pessoas ligadas ao ́baixo prostíbulo ́.
m) Capital intelectual: Pesquisadores, professores universitários, sobretudo com títulos de mestrado/doutorado obtidos na Europa, USA, Canadá. Populações negra e indígena estão com baixíssima acumulação desse tipo de capital. Praticamente não conseguem ́bolsas de estudos ́ nem para se deslocar dentro do território nacional;
z) Capital visual: Considerando que, secularmente, o ́padrão de beleza ́, no Brasil, tem sido branco, não há dúvida de que homens, mulheres, crianças, homossexuais, portadores de deficiência, prostitutas, domésticas, brancas (principalmente se louros/as de olhos azuis), têm sido beneficiados, na sociedade brasileira. As populações negra e indígena têm de percorrer muito chão para garantir a equidade e, já que chegamos até aqui, resta continuar.
Julho de 2014.
1 Ativista do movimento negra, uma das fundadoras do CEDENPA-Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará; da Rede Fulanas-Negras da Amazônia Brasileira/NAB , do IMUNE-Instituto de Mulheres Negras do Pará e, atualmente, uma das coordenadoras da AMNB-Articulação de Mulheres Negras Brasileiras.