Casal branco pinta rosto de preto em festa de igreja em Petrópolis, RJ, e Movimento Negro repudia prática racista

Foto foi publicada nas redes sociais de uma igreja evangélica neste fim de semana. Prática conhecida como 'blackface' levou a Comissão de Educação, Assistência Social e Defesa dos Direitos Humanos da Câmara de Vereadores a entrar com uma notícia-crime no Ministério Público.

Uma foto com teor racista publicada nas redes sociais de uma igreja em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, neste fim de semana repercutiu na cidade e a Comissão de Educação, Assistência Social e Defesa dos Direitos Humanos da Câmara de Vereadores entrou com uma notícia-crime no Ministério Público.

A foto mostra duas pessoas brancas com os rostos pintados com tinta preta e com perucas simulando o cabelo black power.

Foto de casal com rosto pintado de preto em Petrópolis foi publicada nas redes sociais mas foi apagada pouco depois — Foto: Reprodução/Inter TV

A foto foi excluída pouco depois de ser publicada, mas representantes do Movimento Negro registraram com prints (capturas de tela).

“Pra deixar bem claro: atitudes como essa é prática racista e racismo é crime. Solicito uma atitude do poder público e dos órgãos judiciais em relação a essa atitude”, disse a coordenadora do Movimento Beleza Negra, Adriana Rangel.

“Diante desse nefasto ato de racismo, nós do movimento negro em Petrópolis iremos dar resposta a altura. Esse tipo de afronta não pode mais acontecer. É inadmissível”, disse Nilson Siqueira da Silva, coordenador de formação política do Movimento Negro Unificado.

Uma nota de repúdio foi emitida pela Comissão de Educação, Assistência Social e Defesa dos Direitos Humanos da Câmara de Vereadores, por meio do Grupo de Trabalho da Pauta Preta.

“Não é razoável admitirmos uma pessoa branca pintar seu rosto e corpo de preto – a prática conhecida como blackface – ofende pessoas negras. A prática é considerada preconceituosa porque reforça estereótipos de pessoas negras, quando, na verdade, nós somos diversos, temos boca, nariz, pele, cabelo e trejeitos diferentes uns dos outros”, diz um trecho da nota.

O presidente da comissão também falou sobre o caso.

“Não podemos admitir esse tipo de postura, esse tipo de conduta. E os fatos precisam ser apurados para que esse suposto crime tenha a responsabilização correta dos envolvidos. A comissão também emitiu a nota de repúdio pra que a gente faça nesse momento, além de um combate ao racismo, um processo pedagógico pra que as pessoas entendam que não é mais possível aceitar esse tipo de ridicularização e de desrespeito ao povo negro”, ressaltou o presidente da CEADH ,Yuri Moura (PSOL).

Em nota, a igreja disse que a festa foi realizada no sábado e que os participantes foram vestidos de fantasias escolhidas a critério de cada um, individualmente. A instituição disse, ainda, que os envolvidos não tinham conhecimento do que era o blackface e que fizeram suas fantasias sem a intenção de serem racistas.

g1 aguarda informações sobre o encaminhamento da denúncia ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

O que é ‘blackface’?

O “blackface” é uma prática que tem pelo menos 200 anos. Acredita-se que ela tenha se iniciado por volta de 1830 em Nova York.

Mas não se trata apenas de pintar a pele de cor diferente.

Era uma prática na qual pessoas negras eram ridicularizadas para o entretenimento de brancos. Estereótipos negativos vinham associados às piadas, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.

No século 19, atores brancos usavam tinta para pintar os rostos de preto em espetáculos humorísticos, se comportando de forma exagerada para ilustrar comportamentos que os brancos associavam aos negros. Também ridicularizavam os sotaques dos personagens que incorporavam nas peças.

Isso surgiu numa época em que os negros nem eram autorizados a subir nos palcos e atuar, por causa da cor da pele.

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