Censura de Trump atinge projetos no Brasil; ordem veta clima, gênero e raça

Enviado por / FonteUOL, por Jamil Chade

Projetos e pesquisas realizados no Brasil e financiadas por recursos americanos começam a ser alvo do governo Trump. O UOL recebeu documentos que revelam como termos como “direitos humanos”, “promoção de justiça social”, “gênero”, “crise ecológica” e tantos outros passaram a ser barrados de projetos que busquem o financiamento oficial da entidade Fulbright, uma instituição que por décadas vem distribuindo recursos para pesquisadores no Brasil e em todo o mundo.

Procurado, o escritório da Fulbright no Brasil não explicou sua postura e pediu que as perguntas fossem direcionadas para a embaixada dos EUA em Brasília. Na embaixada, porém, nenhuma resposta foi dada e a reportagem foi orientada a procurar o Departamento de Estado norte-americano. Já o Departamento não respondeu às perguntas do UOL sobre a censura.

A censura é parte de uma varredura nas universidades e agências de fomento à pesquisa nos EUA. Para que os projetos possam continuar a existir, os planos de pesquisa e assuntos avaliados precisam passar por uma revisão de palavras e a supressão de conceitos.

O acadêmico Marco Antônio Sousa Alves, da Universidade Federal de Minas Gerais, é um dos que teve seu projeto censurado. Em entrevista ao UOL, ele contou que havia obtido uma bolsa para trazer um professor americano para sua instituição. Uma data estava sendo definida, em 2025, para que a visita ocorresse.

Mas, nas últimas semanas, a situação mudou radicalmente. Num telefonema, os financiadores explicaram que teriam de fazer “ajustes” em seu projeto.

Mas, quando o novo documento foi enviado na última sexta-feira, ele se deu conta que se tratava de censura. No texto, estavam cortados termos como “direitos humanos e civis”, “opressão de gênero e raça” e a constatação do “fortalecimento da extrema direita e a crise de princípios democráticos”.

Ficaram ainda barrados conceitos como “o crescimento da população encarcerada e suas implicações racistas”, “crescimento das desigualdades”, e “crescimento das práticas de vigilância e segurança que violam os direitos civis e políticos fundamentais”.

Sousa Alves, segundo-vice-presidente do Sindicato dos Professores da UFMG, indicou que o tema da censura deve entrar na pauta da entidade nos próximos dias para avaliar como será a reação.

Os termos vetados são os mesmos que foram designados na Fundação Nacional de Ciência dos EUA como áreas que devem ser evitadas para que os fundos continuem a ser desembolsados.

Na ofensiva cultural e de valores do governo de Donald Trump, decretos foram assinados ordenando o fim de políticas de diversidade, o estabelecimento do sexo biológico como a única referência oficial e a abolição de projetos de combate ao racismo ou sobre saúde sexual e reprodutiva.

A situação já resultou no banimento de livros nos EUA em instituições de ensino e uma revisão de bibliotecas pelo país.

Desde 1957, mais de 5,2 mil pesquisadores brasileiros foram beneficiados por bolsas de estudo, pagos pela Fulbright. Ao longo dos anos, nomes como o de Joenia Wapichana, atual presidente da Funai, estiveram entre as bolsistas do programa, além de Ellen Gracie, ex-ministra do STF, e Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF.

Pelo mundo, as bolsas foram concedidas a 60 vencedores de prêmio Nobel e 39 chefes de estado.

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